Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A IMPORTÂNCIA ENERGÉTICA DO OUTRO

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Quase ao final do livro de Marcelo Gleiser, “Criação Imperfeita”, lá pelo capítulo 41, discutindo a interação elétrica entre os átomos e moléculas, comenta ele que ambos trocam entre si cargas positivas e negativas, atenuando o desequilíbrio inerente a cada um. E conclui: “É energeticamente mais favorável estar junto do que à parte.”  Lembrei-me de uma sóror em um curso do ano passado na Morada do Silêncio, em Curitiba, mais especificamente o curso de Introdução ao estudo das Letras Hebraicas. Falando sobre as letras , não me lembro mais porque a conversa enveredou pela importância das compensações que o companheiro exerce em nossas existências e concluí de uma forma  desnecessariamente imperativa que o outro, o companheiro, era fundamental ao nosso equilíbrio, na vida cotidiana.
Vi o semblante dela se modificar, e imediatamente, num rompante, ela contra argumentou que não concordava com aquela declaração, que era possível ser feliz sozinho etc,etc,etc.
Não investi em um debate. Reconheci o ponto de vista dela como importante e válido e mudei de assunto. Depois, sozinho comigo mesmo me penitenciei por ter sido descuidado em minhas palavras.Nem todas as pessoas possuem um companheiro para atenuar seus desequilíbrios pela troca de cargas contrárias e necessárias, dia após dia. Esposas e esposas, companheiros e companheiras em relacionamentos estáveis, são, acho, fundamentais, porém raros e eu devia ter me lembrado disto e ter tido mais cuidado antes de fazer minhas afirmações com tanta ênfase e ferir sentimentos. Mesmo que no livro de Marcelo, um livro sobre astrofísica e filosofia da ciência, esta afirmação esteja, digamos assim, fundamentada energeticamente, por simples associação de idéias. Tenho certeza que ele não concordaria comigo por esta liberdade, cientista cuidadoso que é, mas pelo menos para mim, foi assim que pareceu.
Mesmo assim devemos ser cuidadosos ao comentar estas coisas em público e este foi meu erro. Muitos são solitários. Muitos buscaram de forma frustra por este companheiro e não o encontraram. Ou porque queriam que ele já surgisse pronto para consumo, digamos assim, em vez de elaborar o acabamento desejado na matéria prima in natura; ou porque não procuraram mais depois de uma ou duas decepções e desilusões, desilusões fundamentadas, claro, nas suas próprias ilusões; mas isto, ninguém vê. É mais simples mentalmente atribuir-se a falta de sucesso a sorte e ao azar, a fenômenos climáticos, à influência do mau olhado ou de qualquer outro estratagema mental que procure afastar de nós quaisquer responsabilidades pela nossa própria existência e, claro, pela nossa própria felicidade ou infelicidade.
Negar a autoria do ato é comum a todas as crianças.
“Não fui eu!!!!”, diz o menino descoberto. Toda mãe já ouviu algo assim.
Mentes infantis também são assim.
“Não foi culpa minha!!!”, “Ele é que não me ouvia.” “Meu Deus, o que há comigo que eu não dou sorte.”
Estas também são frases comuns.
Parte da melhoria de nossa existência passa pelo auto contemplação, pela percepção de si, corajosamente, dolorosamente.
Nem sempre olhar, mas olhar de verdade, para dentro de nós é uma experiência muito agradável. Só que é absolutamente necessário.  Sem isso nosso autoconhecimento não aumenta e continuamos vítimas de nossas fantasias e de nossa própria imaginação, projetando sombras sobre outras pessoas e por isso nublando-as com as capas coloridas que nossa mente atira sobre elas. Assim, umas ficam azuis, outras ficam marrons, outras amareladas. Sua verdadeira cor fica oculta pelas capas coloridas com as quais revestimos nossos relacionamentos.
Jamais estamos com alguém; só conseguimos estar com nossas próprias projeções.
Nenhum relacionamento é possível nessa situação.
É preciso olhar além de nossas idéias e preconceitos. O outro estará lá. E ele sempre valerá a pena.
Mesmo que não seja um terno pronto, mas um belo corte de tecido, pronto para ser elaborado, na forma e no tamanho que melhor nos aprouver.
Vai depender de paciência, trabalho e habilidade.
Vai precisar de tempo.
O produto final, no entanto, será exatamente aquele que desejarmos. Não é preciso crer. Basta trabalhar por isso.
Sem fantasias. E principalmente sem pressa, com muito cuidado.
Cuidado com o outro. Exatamente o que eu não tive naquela aula. Paciência.

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