Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 9 de janeiro de 2011

CORRENTES : CAPÍTULO 6 : ATEUS, FALSOS ATEUS, CRENTES E FALSOS CRENTES.



Bernardo: Passa-me pela cabeça que são difíceis os dias daqueles que não conhecem o bem estar de crer em Deus e de vivenciar esta crença, não como um fenômeno intelectual, mas como uma experiência pessoal.


Comenius: Às vezes não, meu amigo. Para as pessoas que não conhecem o perigo , não existe medo.


O cego que não ouve bem não se desvia da flecha que vai atingi-lo. Não percebe a ameaça e por isso não sente o temor.


Da mesma maneira, para aquele que considera a Ilusão da existência mais real que a percepção do Altíssimo, não há conflito. Ele está enclausurado em sua ausência de crença, em seu quarto psicológico, dentro do qual existe e vive. Fora dali nada é real. Assim ele tem um certo conforto enquanto permanecer dentro de seu espaço referencial.


Bernardo: E não somos todos assim? Não temos todos um espaço em que habita nosso espírito, construído com nossas crenças?


Comenius: Com efeito. Dentro deste universo que nos cerca, todos construímos, a sós ou com a ajuda de outros, parentes, amigos e companheiros eventuais, estruturas semelhantes a enormes galpões virtuais de crenças, onde convivemos com eles e dentro dos quais existem inúmeros quartos, cada qual com uma realidade específica que recebe de nós seu estofo de realidade, pois somos criadores, feitos à semelhança do Altíssimo, emanados d´Êle.


Bernardo: Do que concluímos que aqueles que não crêem também alimentam um mundo particular e pessoal psicológico, o mundo da não existência de Deus.


Comenius: É fato. É comum o Ateu dizer-se incapaz de crer em algo tão pouco sólido como um Deus todo poderoso, mas ao mesmo tempo ele crê na vida como seu referencial de solidez. E isto também é uma crença. Se eu creio que Deus existe, ou se creio que ele não existe, tanto faz: ambas as posturas são crenças.


Isto é difícil de entender para quem toma a matéria sensível como seu referencial, mas aquele que tem alguma noção do quanto dependemos de nosso cérebro para perceber o que nos cerca entende com facilidade o problema. Por isso é importante ser cético como método, mas não transformando o ceticismo numa nova religião.


Aliás , um de nossos irmãos de Ordem mais queridos, embora obviamente não fosse ateu, foi quem fundou este comportamento hoje conhecido como ceticismo metodológico


Bernardo: Frater Renée Descartes.


Comenius: Sim, Frater Descartes. Em seu texto “ Meditationes de Prima Philosophia” ele faz considerações, ainda em 1641, sobre a realidade que julgamos ver nas coisas que nos cercam.




Bernardo: Não estou familiarizado com este texto


Comenius: Por coincidência, eu tenho aqui nas minhas coisas, o texto em livro de bolso. Veja, aqui está. Na parte que ele denominou Meditação Segunda ele diz:


“- Comecemos pelas considerações das coisas mais comuns e que julgamos compreender mais distintamente, a saber, os corpos que tocamos e que vemos”.


“Não pretendo falar dos corpos em geral, uma vez que essas noções gerais são ordinariamente mais confusas, mas de qualquer corpo em particular. Tomemos, por exemplo, este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colmeia: ele ainda não perdeu a doçura do mel que continha, ainda retém algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura e sua grandeza são patentes: é duro, é frio, quando o tocamos e, se nele batermos, produzirá algum som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo, encontram-se neste. Mas eis que, enquanto falo, alguém o aproxima do fogo: o que nele restava de sabor, exala-se, o odor se desvanece, sua cor se modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele se torna líquido, esquenta-se, mal podemos tocá-lo, e, ainda que batamos nele, nenhum som produzirá”.


“A mesma cera permanece após essa transformação? Cumpre confessar que permanece; e ninguém o pode negar. Que é, então, que conhecíamos nesse pedaço de cera com tanta distinção? Certamente não pode ser nada do que notei nela por intermédio dos sentidos, uma vez que todas as coisas que se apresentavam ao paladar, ou ao olfato, ou à visão, ou ao tato, ou à audição se encontram modificadas e, no entanto, a mesma cera permanece. Talvez fosse como penso atualmente, a saber, que a cera não era nem essa doçura do mel, nem esse agradável odor das flores, nem essa brancura, nem essa figura, nem esse som, mas apenas um corpo que, um pouco antes, me aparecia sob certas formas e que agora se faz notar sob outras. Mas o que será, falando precisamente, que eu imagino quando a concebo dessa maneira? Considerêmo-la atentamente e, afastando todas as coisas que não pertencem à cera, vejamos o que resta. Certamente, nada permanece senão algo de extenso, de flexível e mutável. Ora, que é isto: flexível e mutável? Não estou imaginando que esta cera, sendo redonda, é capaz de se tornar quadrada e de passar do quadrado a uma figura triangular?


É certo que não, não é isto, uma vez que a concebo capaz de receber uma infinidade de transformações semelhantes e, no entanto, eu não poderia percorrer essa infinidade com minha imaginação e, consequentemente, essa concepção que tenho da cera não se realiza pela faculdade de imaginar.


E, agora, que é essa extensão? Não será ela igualmente desconhecida, já que na cera que se funde ela aumenta e fica ainda maior quando está inteiramente fundida e muito mais ainda quando o calor aumenta?


E eu não conceberia claramente, e segundo a verdade, o que é a cera, se não pensasse que é capaz de receber mais variedades segundo a extensão do que jamais imaginei.


É preciso, pois, que eu concorde que não poderia mesmo conceber pela imaginação o que é essa cera, e que somente meu entendimento é quem o concebe.”(o grifo é meu)


Bernardo: Lindo trecho.


Comenius: Realmente. Muito mais feliz que belo, porque este exemplo da cera, prima pela brilhante e simples escolha de um material, proverbial pela sua solidez e , ao mesmo tempo, pela sua potencialidade de mudança de estado físico, ao sabor da mudança de temperatura. E não estamos falando de nada mais do que um pedaço de cera, que era a matéria prima da vela que provavelmente iluminava a mesa de nosso sábio irmão. Como professor, que precisa e caça, todo o tempo, modelos explicativos simples e didáticos, sempre me emociono ao ler este exemplo cartesiano.


Bernardo: Compreendo. E para citar outro pensador, Marx, Descartes mostra, com a cera, que “tudo que é sólido desmancha no ar”.


Comenius: E no fogo. E por isso, fundar nossa certeza em algo tão instável quanto a matéria não pode ser uma medida segura. É sempre o entendimento que, como diz Frater Descartes, dá uma sensação de estabilidade às coisas da matéria. E não a matéria em si.


E se é o entendimento que nos dá esta sensação de solidez, ilusória e forte, ao mesmo tempo, é nele, entendimento, que devemos nos concentrar para ver aonde repousam nossas certezas e o que as fundamenta.


E para surpresa dos ateus, vamos encontrar, na base de suas certezas, milhões de crenças, valores, idéias de mundo, e pré-conceitos que nos dão, a nós, seres humanos, um panorama que batizamos de “nossa noção do real” , ou melhor, “nosso real”. Vemos apenas aquilo que compreendemos, e do modo que o compreendermos.


Bernardo: Qual atitude você acha mais prudente, diante de nossa ignorância e limitação?


Comenius: Em minha opinião a do fenomenologista husserliano , que mantém em suspenso seu julgamento, ao contrário do ateu, cheio de falsas certezas. É claro que estamos partindo do pressuposto de que nenhum dos dois ainda pode perceber o que o cerca através de seus corações, mas que usam apenas o intelecto para entender o que os cerca.


Bernardo: Em que sentido?


Comenius: Veja, isto que estamos discutindo , crer ou não crer, só é possível quando não existem certezas. Quando estamos incertos das coisas, recorremos às crenças, para que nos dêem conforto e abrigo. É o caso da morte de um ente querido. Num momento de perda trágica, é sempre útil algum tipo de religião que nos apóie com seu arcabouço de valores sobre outras vidas, a persistência da alma, a existência de um local para onde vão aqueles que amamos e, no qual, os encontraremos eventualmente. Isto nos alivia, e de certa forma atenua nossa dor; mas veja que isto são crenças. O homem que crê em alguma coisa ainda não experimentou o contato direto com a Fonte Universal, diante do qual todas as dúvidas se dissipam.


Essa certeza intuitiva e indiscutível prescinde de crenças. Aqui existe uma iniciação a um outro nível de perceber as coisas que nos cercam, o nível da sensibilidade.


O que sentimos,sabemos que é real. Não se trata do que vemos, ou cheiramos, ou tocamos. Trata-se como lembrava Jean Jacques Rousseau, da certeza que temos através da sensibilidade, mesmo que em oposição a todas as evidências.


Dizia ele: “A consciência é a voz da alma, as paixões são a voz do corpo. É espantoso que muitas vezes essas duas linguagens se contradigam? A qual delas se deve ouvir? A razão freqüentemente nos engana, não temos senão o direito de recusá-la; mas a consciência nunca engana; é o verdadeiro guia do homem: ela está para a alma assim como o instinto está para o corpo.”


Aliás, sensações assim, que advém de um mergulho direto na Fonte De Toda A Verdade, são elas mesmas evidências, não externas, mas internas, da realidade das coisas que percebemos por este modo.


É a via do coração, a via cardíaca.


Bernardo: Interessante, mas existe uma objeção: se o entendimento, já vimos isto, pode pregar-nos peças, e precisamos estar alertas para que tal coisa não nos aconteça, o sentimento não seria muito menos confiável que a razão?


Comenius: De fato, mas você se refere a coisas diferentes.


Você misturou dois planos diferentes de análise.


Existe o plano físico, das coisas extensas, o plano do espaço e do tempo.


Neste plano discutimos sensualidade, as experiências captadas pelos cinco sentidos primários.


O outro plano é aquele dos processos internos ao ser, sua razão e seus sentimentos, que aqui chamarei de paixões.


Neste plano podemos sentir coisas sem relação com o espaço externo, mas sempre referenciadas no espaço interno do ser.


Memórias, imagens, desejos, são parte da nossa vida interior.


Este é o plano das coisas intensas, fora do tempo e do espaço


Quando falo em sensibilidade não falo das paixões humanas que você chamou sentimento.


A sensibilidade é a ponte entre o que é extenso e o que é intenso. É a harmonização de ambos os planos.


A sensibilidade percebe o real como uma experiência estética, semelhante àquela que ocorre a quem contempla um quadro de rara beleza, e experimenta uma identidade e uma compreensão da obra que transcende a análise fria das combinações das cores e dos matizes. Eu falo de saber, dentro de si, que uma informação não racional saiu do quadro e entrou no observador sem que houvesse necessariamente movimento físico, ou som, ou odor.


Na experiência artística, o que fazemos é colocar em harmonia os dois planos, o plano extenso com o plano intenso.


Sentir o quadro não é tocar os dedos sobre a tela: é mais como compreendê-lo, sem palavras.


Tocar , cheirar, ouvir, são sensações físicas e compõem o conjunto da sensualidade.


Neste caso, demos intensidade à extensão.


A sensibilidade amplia a capacidade perceptiva da razão. Enquanto a paixão, que você citou, turva a percepção, a sensibilidade dá penetração à razão e a enriquece.


Bernardo: Então a sensibilidade é a expansão da percepção sensual?


Comenius: Expansão e modulação, enfim, aperfeiçoamento.


A razão, sem a sensibilidade, é tosca e áspera.


A sensibilidade sem a razão é vaga e imprecisa.


Os cavalos sustentam o cavaleiro mas sem as rédeas poderiam jogá-lo ao chão.


A sensibilidade dá direção e graça ao movimento da razão.


Que nos adiantaria o cavalo sem rédeas ou, ao contrário, as rédeas sem o cavalo?


Bernardo: Você descreveu com muita elegância, mas não respondeu ainda a minha pergunta: como discernir entre sentimentos (paixões) e a sensibilidade?


Ambas são sutis. Ambas mexem com nosso lado emocional.


Comenius: Acho que um meio seguro para tal distinção ainda é o critério estético, a beleza e o bem estar correspondente da percepção que provém deste tipo de instrumento de sondagem do chamado real.


Paixões são sempre tão intensas quanto confusas, além de despertar em nós um profundo mal estar.


Outro grande critério é o da Harmonia.


Percepções da sensibilidade são harmônicas e as das paixões são desarmônicas.


Bernardo: Mas o amor é belo, forte, e é uma paixão, que nos enobrece e engrandece; que eu o saiba não causa mal estar, ao contrário, é altamente prazeroso.


Comenius: Você tem certeza disso? Então o amor de um homem por uma mulher não é pleno de sensualidade? Não cria apego, saudade, ciúme?


O único dos muitos amores conhecidos que eleva e não causa dor é o amor altruísta, não direcionado, pois se assim não for, meu inocente amigo, causará sofrimento sim e que sofrimento.


Bernardo: É verdade. Os sentimentos ou paixões tem sempre duas faces que se alternam , instáveis, enquanto que a sensibilidade é uma , direcionada e estável.


Comenius: Sensibilidade é sempre um exercício dirigido a um único foco enquanto o sentimento não tem repouso em ponto nenhum.


Sensibilidade é concentração e sentimento (paixão) é dispersão.


A sensibilidade nos fortalece e o sentimento, a paixão, nos enfraquece, drena nossas forças.


Bernardo: É possível a um ateu ser sensível?


Comenius: Um falso ateu sim, este é capaz de ser bastante sensível.


Bernardo: Falso ateu?


Comenius: Sim, falso ateu. É um tipo engraçado. Vê um certo charme em ser ateu e tem imensa vergonha de dizer-se crente. Denuncia-se por sua gigantesca sensibilidade pela causa humana, pela sua bondade de coração, pela sua vida piedosa e dedicada ao bem, sem em nenhum momento professar qualquer fé ou discutir quaisquer assuntos do espírito. É um verdadeiro místico em gestação.


Bernardo: Interessante.


Comenius: A crença em uma inteligência superior prepara o espírito para a experiência do contato direto com esta inteligência, da mesma maneira que a bondade e o respeito à vida prepara o ateu para a crença em algo superior a ele , invisível, mas que ele pressente, em seu íntimo, que está lá. Só não consegue admitir.






Bernardo: Entendo. Quando o homem desenvolve sua sensibilidade, e ele pode fazê-lo por meios necessariamente não espirituais, como a arte e a reflexão filosófica, enfim, pelo refinamento, ele se prepara para o Eterno. Pela sensibilidade ele supera a mera sensualidade. E pela arte, na minha opinião, principalmente a música, ele desenvolve esta sensibilidade tão necessária ao seu aperfeiçoamento.


Comenius: Exato. Portanto, poderíamos dizer que existe uma escala de evolução, degraus que vão sendo galgados na escada espiralada da evolução, e que o degrau mais alto do ateísmo seria o primeiro degrau da crença e o degrau mais alto da crença seria a fusão, a identificação com Deus. Ateus verdadeiros seriam aqueles alguns degraus abaixo da fase de crer, enquanto falsos ateus seriam aqueles que estão prestes a superar suas limitações de percepção de Deus dentro de si.


Bernardo: A sensibilidade destes homens os denuncia, então?


Comenius: Com certeza. Ela é a manifestação externa das transformações internas destes homens


Bernardo: Passa-me pela cabeça outra questão, que vou colocar pra você apenas como provocação para aprimorar as suas e as nossas reflexões: se a sensibilidade crescente de um indivíduo ateu , prenuncia seu próximo salto evolutivo, como a ética do apóstolo Paulo, antes de Damasco, já demonstrava nele uma tendência pela busca do que é justo e perfeito, mesmo sendo um fariseu, após a passagem para o nível em que se percebe a existência de algo mais complexo e superior a nós, ou seja a fase da Crença na existência de Deus, a sensibilidade destes indivíduos, agora tocados pela existência do Altíssimo, deveria ser imensa. E o que vemos? Pessoas que se dizem crentes, mas que na verdade são terrivelmente retrógradas, insensíveis, incapazes de representar o que de melhor existe na raça humana. Como podemos explicar essas coisas pela nossa escada espiralada?


Comenius: Acho que o problema está em acreditar no que sai da boca do homem sem verificar com nossa sensibilidade se aquilo é real. Este é o aspecto prático do desenvolvimento da sensibilidade: o acesso direto aos corações daqueles com quem nos relacionamos.


Senão vejamos: você não concorda que é muito comum encontrar pessoas que se declaram religiosas, crentes na existência de Deus, seja lá o nome que Lhe dêem, mas , ao mesmo tempo, são representantes da intolerância? Eu penso nos fanáticos religiosos.


Bernardo: Claro que concordo. É sobre isso que estou falando.


Comenius: Portanto, tais pessoas dizem-se religiosas, dizem-se crentes em um Deus de amor e paz , mas matam em nome deste mesmo Deus e perseguem outras pessoas, fisicamente, torturando-as, em nome desta crença. O que então a sensibilidade nos diz? Estes não são crentes verdadeiros, mas falsos crentes, muitas vezes representantes não de Deus mas do Mal.


Bernardo: Falsos crentes? Como os falsos ateus?


Comenius: Exato. Não somos aquilo que dizemos ser: somos o que somos. Ninguém pode se ocultar dos olhos do coração. Por que os olhos do coração, da sensibilidade, são os olhos de Deus em nós. É neste momento, quando usamos a sensibilidade, que nos manifestamos de forma mais semelhante ao Deus que está dentro de nós. É por isso que ouvimos com as orelhas, entendemos com nosso cérebro, mas só em nosso coração sentimos se aquilo que está sendo dito corresponde à verdade. O sonho do ser humano que busca o conhecimento é encontrar a Verdade, e como já vimos, nossa capacidade de perceber as coisas deve sempre estar sob suspeita, deve ser sempre testada, com um ceticismo metodológico cartesiano, porque é fácil ser induzido ao erro dada as nossas limitações sensitivas e reflexivas.


Por isso precisamos de um outro meio de conhecer, uma nova epistemologia que se fundamente na sensibilidade e não apenas na razão.


Quanto aos falsos crentes, eles com certeza existem, e só não se dizem ateus pela mesma razão dos falsos ateus não se dizerem crentes: apego aos valores pessoais ou familiares e às suas teorias pessoais de mundo e, mesmo quando estas teorias são contestadas pelos fatos, eles persistem em tentar mantê-las.


Bernardo: Sua falta de sensibilidade os denuncia?


Comenius: Da mesma forma que a sensibilidade dos falsos ateus os revela.


Bernardo: Entendo.


Comenius: Veja, meu amigo, uma coisa é o que está escrito no rótulo de um remédio e outra, às vezes muito diferente, é o que está dentro do vidro.



Bernardo: Rótulos. Boa imagem. Pouco original, mas propícia e oportuna.


Comenius: Agradeço a sua tolerância com a simplicidade da minha explicação. Ela denuncia sua sensibilidade.


Bernardo: De tudo isto que discutimos, me vem à cabeça que todos nós devemos tanto testar a sinceridade de nossas palavras pelos nossos atos, quanto nossa fé com nossa sensibilidade.


Dito de outra maneira, é pela bondade dos atos que revelamos nosso real comprometimento cristão, mas só pela capacidade de sentir Deus em nós é que sabemos realmente que estamos imbuídos de Sua presença.

Comenius: Fato. Como eu disse antes, quando testarmos nossa fé com nossa sensibilidade, e conseguirmos sentir a presença de Deus em nós, a fé em si deixa de ser necessária. Cremos em coisas que não vemos mas que acreditamos existirem, em nosso coração. Aquilo que está diante de nós ou dentro de nós, não necessita de fé alguma, é uma experiência, que pode ser descrita, narrada, testemunhada, todo o tempo.


Jean Jacques Rousseau sempre dizia: “- Quantos homens entre mim e Deus!”


A presença de Deus em nós torna inútil a necessidade de qualquer fé.


A corrente terá se fechado em si mesma, no seu último elo.

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