por Mario Sales,FRC,SI,CRC
Na prática da ciência rosacruciana, lidamos, como comentei
em outro ensaio, com os problemas de demonstrabilidade dos eventos psíquicos,
principalmente a falta de tecnologia que permita o registro de caráter
científico da experiência mística ou de dons parapsicológicos, para compartilhamento
com aqueles que não usufruem ainda destes dons.
A partir disto, resta no exame destas experiências, a opção
de analisar depoimentos de fratres e sorores que experimentaram algum tipo de
fenômeno incomum de natureza mística.
Depoimentos pessoais, entretanto, por motivos óbvios, estão
carregados de subjetividade e são por isso, extremamente imprecisos e de baixa
confiabilidade.
Não se trata de avaliar se o frater ou a soror que faz o
depoimento, está dizendo, em sua visão a verdade e toda a verdade sobre o que
aconteceu, mas sim estabelecer os critérios que serão usados para definir o que é verdadeiro e o que é falso, do ponto de vista científico.
Psicologicamente, todo cientista sabe, o testemunho humano
de determinado evento externo a ele é o dado de menor confiabilidade existente
entre todos os dados de confirmação científica.
Nós temos o hábito de distorcer a percepção de fatos
chamados reais e objetivos com muita facilidade o que torna o ser humano em si a
menos confiável das fontes.
Se fazemos isto com fatos externos chamados reais, imaginem
com o depoimento sobre experiências vagas e muito sutis, de natureza
íntima.
Portanto, precisamos de meios mais confiáveis para detectar
as alterações ocorridas durante a manifestação de um fenômeno chamado
paranormal, como por exemplo a realização de filmes por várias câmeras, em
vários ângulos, de forma a diminuir o risco de manipulação das imagens, a
medição de alterações das ondas eletroencefalográficas durante a prática da
telepatia, ou para ser mais atual, a interessante abordagem de meu saudoso mestre
e querido amigo Reginaldo Leite, que realizou um belíssimo experimento
analisando com o recurso de ressonância magnética cerebral as alterações
cerebrais durante a emissão de certos sons vocálicos.
Hoje, saímos da era dos neurotransmissores para a da
neuroimagem, recurso que se vale de substâncias radioativas que "acendem"
certas áreas quando estas são ativadas durante os processos cerebrais.
No site http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000500017 , lemos que "...no campo das doenças
cerebrais orgânicas, a utilidade das técnicas de neuroimagem na rotina clínica
é amplamente aceita. Os métodos mais acessíveis, como a tomografia
computadorizada (TC), a ressonância magnética (RM) e a tomografia
computadorizada por emissão de fóton único (single photon emission computed
tomography - SPECT) são recursos importantes para o diagnóstico diferencial
de demências; para o diagnóstico e manejo de doenças neurológicas que comumente
cursam com sintomas psiquiátricos, como as epilepsias e acidentes vasculares
cerebrais..."
Se para os quadros patológicos, as técnicas de neuroimagem
são indiscutivelmente úteis, precisamos tentar criar experimentos com estes
recursos para acompanhar alterações cerebrais ao longo de manifestações
místicas e psíquicas.
É claro que esta linha de pesquisa parte de dois pressupostos:
1°: que o cérebro é o local aonde os eventos
psíquicos manifestam alterações mais importantes porque,
2°: que o cérebro seja a residência física da mente e da
consciência.
Outra coisa pressuposta de maneira implícita é que as alterações no corpo físico
reflitam alterações no corpo psíquico, o que poderia levar a conclusão inversa de que sempre existe uma base orgânica para as manifestações psíquicas.
Na verdade , esta última suposição não está clara para mim,
nem me parece a única possível. Acredito mais em múltiplas manifestações por interação entre todos os corpos do homem, começando pelo mais etéreo até se consolidar numa lesão orgânica.
Se aceitarmos que possuímos mais de um nível de densidade na
composição de nosso corpo ( a escola teosófica fala em sete corpos), o corpo
físico será apenas um dos locais aonde os fenômenos psíquicos terão algum
reflexo, e não o principal local aonde isto ocorre. É mais sensato e coerente com o conhecimento esotérico supor que as manifestações orgânicas sejam as últimas de uma cadeia de manifestações em todos os corpos etéreos.
O fato é que, se queremos estabelecer de modo compartilhável
uma maneira de verificar e mensurar uma ocorrência psíquica ou para psicológica,
para poder compartilhar nossa visão com mentes naturalmente céticas, precisamos do corpo
físico, o único visível sem esforço ou sem instrumentalização, para criar esta
área de encontro entre universo místico e universo científico ortodoxo.
Estas são possíveis linhas de pesquisa para a URCI, hoje infelizmente
mergulhada em debates eminentemente teóricos. Tais programas são passíveis de
operacionalização dentro do rigor do método científico, que gerariam com
certeza uma produção, como se diz em ciência, verificável e falsificável,
compartilhável, em suma, de modo a "criar pontes" com o mundo
científico.
Essa é a minha esperança, ver a URCI novamente envolvida com
pesquisa de tecnologia de mensuração e verificação dos fenômenos psíquicos,
como nos tempos do professor Buletza, hoje aparentemente distantes e
desconhecida dos neófitos mais recentes.
De fato essa é uma das perguntas que eu me faço: O que a URCI tem estudado hoje em dia?
ResponderExcluirSó Deus sabe, um velho amigo e rosacruz, que já passou pela transição chamava de Blá blá blá pseudoerudito. A palavra mais perigosa é Interdisciplinariedade, algo super importante, mas que não merece consumir todas as energias da URCI como tem feito nos últimos anos. Neste particular é uma perda de tempo absurda que não gera produtos ou subprodutos que melhorem o desempenho rosacruciano, na minha opinião, e nem nos aproxima da ciência ortodoxa. Posso estar errado mas esta é minha posição.
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