por Mario Sales, FRC,SI,CRC
"Lembrem-se que as primitivas escolas de filosofia mística deram
origem aos filósofos conhecidos como Gnósticos, cuja organização cresceu muito
rapidamente e mais tarde tornou-se um grave obstáculo a rápida expansão das
especulações cristãs, porque os gnósticos procuraram exemplificar o que o nome
gnosticismo significava, qual seja conhecimento e sabedoria. Os gnósticos eram
pessoas que se pautavam pelo conhecimento,
que não afirmavam nem ensinavam nada que não conhecessem absolutamente. Eliminaram
de seus ensinamentos toda possível dúvida ou crença que não fossem corroboradas
pelo conhecimento autêntico ou que fosse baseada (apenas) em fé. Vocês podem
compreender, portanto, que os ensinamentos dos gnósticos, durante a vida de
Jesus ou logo depois, tornaram-se um real empecilho a expansão das doutrinas
cristãs, que então passavam por uma mudança rápida e contínua baseada em
especulações dos líderes eclesiásticos e autoridades da igreja, cuja única
intenção era a de criar e promulgar ensinamentos doutrinários que apoiassem e
constituíssem uma igreja. Esses líderes gnósticos dividiram-se em várias
escolas, mas jamais perderam de vista o objetivo de não se afastarem do conhecimento;
e nesse sentido os Rosacruzes eram iguais aos gnósticos; aliás, muitos dos Rosacruzes pertenceram a
escola do Gnosticismo."
De uma monografia rosacruz do 11° grau
Anos atrás, li estas linhas com a mesma devoção que as leio
agora. Entre velas, respeitosamente, eu estudava a história de minha ordem, e
relembrava, ao mesmo tempo, seus princípios, seus valores mais preciosos, seu
respeito ao pensamento fundamentado e ao conhecimento que nos deu civilização,
educação, preceitos de dignidade mental que tanto orgulho nos causam, a nós
seres humanos, rosacruzes ou não.
Sim, porque a escola rosacruciana está inserida na
Humanidade, não é outra coisa senão parte integrante desta mesma humanidade, e
gosto de pensar que seja uma de suas melhores partes.
Os rosacruzes tem princípios nobres a norteá-los e estes
princípios foram tornados compreensíveis aos contemporâneos pelo trabalho
impressionante e sempre subestimado de Harvey Spencer Lewis.
Destes princípios, talvez o mais importante seja o amor ao
conhecimento, ou como diz o texto em epígrafe, um trabalho educacional "que não afirme nem ensine nada que não
se conheça absolutamente". De forma que se elimine "de seus ensinamentos toda possível dúvida ou crença que não sejam
corroboradas pelo conhecimento autêntico ou que sejam baseadas (apenas) em fé".
Foi isso que eu aprendi e que estudei em muitas monografias
de AMORC. É isto que tento passar para fratres e sorores em exposições em
locais os mais variados, em conversas em organismos afiliados que visito, em
contatos pelo skipe.
Rosacruzes devem, apenas por ser rosacruzes, ler sobre tudo
que possa fazer a sua vida tornar-se mais rica e produtiva, e sua mente e
pensamento com horizontes mais largos. Portanto, um verdadeiro estudante de
AMORC não estuda apenas os assuntos relacionados a AMORC, mas também sobre
Arte, Ciência e Filosofia. Procura conhecer a História da raça humana, o grupo
a que pertence, as mudanças de perspectiva do real que se sucederam século após
século; procura entender as dificuldades encaradas por astrônomos e
astrofísicos ao longo dos anos para compreender a natureza do Universo; dos
biólogos, na tentativa de compreender o funcionamento da Vida e os
comportamentos dos animais com os quais dividimos este planeta.
Rosacruzes não tem forma, ou cor de pele, ou credo que os
iguale, mas todos , sem exceção, são pessoas curiosas e interessadas em ampliar
seu conhecimento, e a partir daí, sua sensibilidade. E para que um conhecimento
seja ampliado de modo sólido e sustentável ele não pode, repito, não pode ser
produto apenas de crenças e suposições; não pode enfim ser baseado apenas na
fé.
Fé é crer em algo sem fundamentação. Esta não é, repito, não
é uma atitude mental rosacruciana, como citado no trecho em epígrafe.
Rosacruzes se comportam e sempre se comportaram como membros do gnosticismo,
movimento que nada tem a ver com a chamada Escola Gnóstica Moderna.
Hoje a Escola Gnóstica Primitiva não existe mais porque seu
lugar foi ocupado pela Ciência.
É o método científico que norteia, hoje, a busca por
conhecimento fundamentado. E embora nem todos os rosacruzes sejam cientistas, o
espírito científico pode e deve estar presente em seus corações e mentes.
Um bom e autêntico rosacruz não zomba ou desconfia da
ciência ortodoxa. Pelo contrário, procura estar a par dos avanços, dentro do
possível, porque sabe que as limitações da ciência são o sinal de sua prudência
ao construir um saber realmente demonstrável e fundamentado.
Quanto ao aspecto místico, característico dos rosacruzes,
mesmo aí o método científico também pode auxiliar, já que para o místico, ao
contrário do religioso, o Divino é uma experiência e não uma crença.
O verdadeiro Rosacruz sente Deus em si mesmo e em sua vida,
experimenta Sua Sagrada Presença, e portanto, não precisa acreditar em algo que
faz parte de seu cotidiano, como o Sol ou a Lua.
Isto é conhecimento fundamentado.
Isto é misticismo verdadeiro.
Nós não somos membros de nenhuma seita, de nenhuma religião
e nossos líderes não são líderes religiosos que exigem de nós devoção e
adoração.
São seres humanos e fratres e sorores como todos nós e
precisam de nosso auxílio para manter a qualidade desta que é a mais profunda e
nobre Ordem Esotérica do planeta.
E nesse sentido, todos os membros de AMORC precisam
desenvolver cultura e capacidade de reflexão, de forma que sejam um exemplo de
cultura e discernimento para todos com quem conversarem, demonstrando e
exemplificando com seu conhecimento e sabedoria sua inteligência e sensibilidades
diferenciadas.
Esta é a única e a melhor propaganda que podemos fazer de
nossa amada Ordem; essas são as diretrizes filosóficas que nos norteiam como
membros e das quais jamais devemos nos afastar.
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