"Porque a carne milita contra o espírito, e o espírito contra a carne."
Paulo Apóstolo, Epístola aos Gálatas, 15:17
Vamos recorrer de novo as nossas comparações didáticas.
Imaginemos um astronauta, em gravidade zero, que faz uma
assim chamada "caminhada espacial" para um serviço rotineiro de
conserto de um mau funcionamento qualquer de um telescópio espacial, como o
Hubble.
Todos hão de concordar que nenhum astronauta, sem oxigênio,
exposto a uma situação semelhante, causaria propositalmente qualquer dano a sua
vestimenta de trabalho, sem a qual, em um meio diferente de temperatura,
pressão e atmosfera, aliás sem qualquer atmosfera, morreria instantaneamente em
primeiro lugar, e em segundo lugar, não conseguiria completar sua missão.
Imaginemos a mesma situação em grandes profundidades. Um
equipamento semelhante de proteção do nosso frágil corpo seria usado com
certeza, para que conseguíssemos chegar até aonde desejássemos, estudar seres
abissais, coletar informações oceanográficas, etc, etc, etc. Jamais, expostos a
um meio diferente de temperatura e pressão, mergulharíamos tão fundo sem o
revestimento de um traje protetor, que nos amparasse em nosso esforço, e que,
aliás, o permitisse. Sem este traje, como antes foi dito, morreríamos instantaneamente
em primeiro lugar e, em segundo lugar, não conseguiríamos completar nossa
missão.
Trajes especiais são feitos para nos permitir viver em
ambientes diferentes e investigá-los.
Trajes espaciais ou escafandros, largados a um canto, são
peças sem vida, sem atividade própria. Apenas quando os vestimos, damos um
sentido a sua existência, movimentos, intenções, da mesma forma que eles nos
amparam e protegem enquanto os usamos.
Não militam contra nós, que somos o seu conteúdo e seus
senhores pois só fazem aquilo que queremos que façam.
Muito menos deveríamos militar contra eles, já que isto não
faria nenhum sentido, considerando que dependemos destes trajes para trabalhar
e sobreviver em meios inóspitos e hostis.
Tudo isto posto e considerado, é impossível conceber que
fundamentos podem estar no nojo e no medo do corpo e de suas necessidades por
aqueles que se dizem líderes espirituais.
É difícil dizer qual a base para esta campanha de tantos
séculos levada a cabo por mentes tacanhas ou mal intencionadas, que vêem no
traje, e não naquele que o veste, a responsabilidade pelos erros e equívocos
éticos que testemunhamos na história da espécie humana.
Da mesma maneira que o traje humano para viver nesta
dimensão, o corpo, não pode ser responsabilizado de qualquer comportamento anti
ético ou imoral, mas sim aqueles que o usam, da mesma forma não pode ser
exaltado como a expressão de nossa humanidade, já que nem a sua forma
provavelmente corresponde a nossa, pelo menos se levarmos em consideração as
comparações feitas acima.
O que somos, não sabemos. Sabemos o que nosso corpo é, e
embora saibamos bem mais do que sabíamos 100 anos atrás, ainda temos muito pela
frente para compreendê-lo perfeitamente.
O que somos é este algo dentro de nosso corpo, que não
podemos ver ou tocar. Isto que os rosacruzes chamam de personalidade alma.
O corpo, bem como suas necessidades, tem sido injustiçado de
maneira sistemática, como em uma tentativa canalha de atribuir-lhe
responsabilidade por coisas que em sã consciência ninguém atribuiria.
Culpar um traje espacial por um erro de procedimento em um
trabalho qualquer de reparo de uma aparelho espacial seria um disparate.
Da mesma maneira seria um disparate culpar o traje por nos
limitar os movimentos em ambientes que, em si, já nos ameaçam, e que nos
dilacerariam sem que lançássemos mão deste maravilhoso recurso de imersão neste
meio.
As limitações de um traje não podem e nem devem ser
consideradas mais importantes do que as vantagens operacionais que ele nos
oferece, considerando o ambiente em que estivermos.
O nosso corpo é nosso traje neste mundo, nesta dimensão.
O nosso corpo é nosso traje neste mundo, nesta dimensão.
Que mais é preciso dizer em defesa de uma visão menos
preconceituosa e descabida sobre o corpo?
Cuidemos de nossos trajes de serviço, e aprendamos a
valorizá-los, antes que o Chefe do serviço mande devolvermos.
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