por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Portugal é um país
encantador, lúdico, transpirando tradição e história, principalmente a
medieval.
Quando pensamos em
contos de cavalaria, são os ingleses que nos vêm a mente, com a Lenda do Rei
Artur, a qual foi narrada originalmente por um trovador francês.
A península ibérica
tem também, no entanto, seu histórico de lutas e conflitos, seus heróis e
cavaleiros, seus reis e rainhas, com dramas Shakespearianos, como a história (real
em dois sentidos) de Inês de Castro e Pedro, príncipe e depois rei de Portugal,
cujos túmulos visitei no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Como tudo o mais, até
seus esquifes contam e narram suas histórias, em pequenas e preciosas esculturas
em alto relevo.
Comprei em Lisboa,
exatamente por isso, um livro de Lendas de Portugal, Ancora Editora, escrito
por Gentil Marques. Urge desfazer tanta ignorância sobre meus antepassados;
sim, meus, seus, ou, como eles adoram falar, vossos antepassados, já que não há
aqui ninguém que não tenha em suas veias um pouco ou muito do sangue de
aventura português.
Óbidos, Alcobaça (dos
rios Alcoa e Baça, que dão origem ao nome), Nazareth, na praia, Fátima, Sintra
com o Castelo da Pena, que está na capa do blog esta semana e no qual é
inevitável a sensação de mergulho em um passado estranhamente familiar. Mais
ainda quando se ouve dizer de um esoterista português, na verdade nascido no
Rio de Janeiro e filho de pais portugueses, António Augusto Carvalho Monteiro, interessado
em Cabala, e ligado aos Maçons e aos Rosacruzes, que vivia em Sintra e que
mandou construir um rico palácio, o "Palácio das Regaleiras" ou "Quinta
da Regaleira" cheio de referências ocultistas. Isto é o mais fascinante, o
reencontro de um semelhante em tão distantes paragens.
Neste mesmo local,
encontra-se um estranho sítio conhecido como "poço iniciático",
usado, segundo consta, em rituais de iniciação à maçonaria.
"A simbologia do
local está relacionada com a crença que a terra é o útero materno de
onde provém a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de
iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou
renascimento. A existência de 23 nichos localizados por debaixo dos degraus do
poço iniciático representava um dos muitos mistérios da referida construção. No
dia 29 de Dezembro de 2010, o professor Gabriel Fernández Calvo da Escola
Técnica Superior de Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos da Universidad
de Castilla - La Mancha em Ciudad Real, quando visitava o poço acompanhado
de outros professores da UCLM, observou que os 23 nichos não estão colocados
por acaso, pois encontram-se agrupados em três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos
separados entre si à medida que se desce ao fundo do poço. Esta organização não
é aleatória e provavelmente se refere ao ano 1715 em que Francisco Albertino
Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do
Castro) em leilão público."[1]
Em sua arquitetura de
nove níveis, relembra os nove círculos do inferno de Dante. No endereço https://www.youtube.com/watch?v=mhdItKFdC-E
é possível fazer uma visita virtual ao interior desta interessante construção.
Estivemos ainda no
Cabo da Roca, o local mais ocidental de Portugal Continental, bem como da
Europa Continental, local, segundo Camões, onde " a terra se acaba e o mar
começa".
Com um farol
belíssimo, o Cabo tem um charme indiscutível.
Mas o cenário mais
impressionante não foi uma paisagem ou algo da natureza, mais um templo e um
ritual, como é adequado a um místico e esoterista.
Curiosamente, não por
minha vontade, mas por insistência de minha esposa, fomos do Porto a Santiago
de Compostela, (São Tiago do Campo de Estrelas) aonde passamos um dia inteiro,
e além de tudo, assistimos a Missa do Peregrino.
Esta por sinal, foi
caracterizada pelo incensamento característico, que hoje ocorre aleatoriamente,
em ocasiões especiais. Fomos agraciados com a sorte de estar em visita ao
templo, naquele ritual, um grupo de adolescentes da Escola de Padre de
Alicante, e , em sua homenagem, o incensamento peculiar do templo se deu.
E eu que não sou
católico, ajoelhei e rezei , dada a beleza do altar e a emoção do momento.
Já que não há como
descrever, eu fiz um vídeo, que coloco aqui para que vocês vejam um pequeno trecho daquilo que presenciei e julguem por vocês mesmo se é ou não uma
experiência marcante.
Ao final desta missa,
eu tinha firmado a convicção de que, mesmo jamais tendo feito o Caminho de
Santiago, pelo fato de estar vivo eu tinha direito de estar naquela missa e me
sentir abençoado pelo sermão do sacerdote, que lembrava, em função da presença
dos estudantes, a importância da educação no crescimento de todos nós, e a fala
do Cristo de que devemos almejar sempre a perfeição ou pelo menos o estado de
constante aperfeiçoamento, já que "devemos ser perfeitos como é perfeito
nosso Pai que está nos céus" (Mateus, 5:48).
Se não fiz o caminho
de Santiago, fiz o caminho da Vida, em busca de constante aperfeiçoamento. Como
tal, sou também um peregrino, como de resto todos nós que estamos aqui neste
mundo.
Esta viagem me
relembrou esta obviedade que é importante jamais esquecer, já que o que importa
é exatamente este buscar, este peregrinar e não necessariamente o fim da
jornada, se é que existe tal coisa.
Volto para casa sob
as bênçãos de São Tiago, irmão do Cristo, e da Santidade de dois lugares
santos, Compostela e Fátima, que espero, me ajudem a manter em mente apenas o
que é digno e justo.
[1]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_da_Regaleira#Po.C3.A7o_Inici.C3.A1tico
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