por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Eros e Psiquê, Fernando Pessoa
...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)[1]
Existem duas formas para descrever um evento testemunhado: o
primeiro é a narração objetiva, que se transforma em História; a outra é a
poesia, que se transforma em Mito.
A Narrativa Histórica se assemelha a uma montagem feita a
partir de pequenos cubos, que se superpõem em uma estrutura regular.
O Mito, por outro lado, desenha no espaço uma imagem mais
biológica, de traços menos rígidos, vivos mesmo, com movimento interno e
externo, movimento este que se fundamenta no ato de interpretação, do mesmo
modo que a bandeira só balança quando é tocada pelo vento.
Se a Narrativa Histórica for tocada pelo vento, nada
acontecerá já que um muro de pedras não balança.
Já o Mito ganha vida quando tocado pela mente humana, que
nesse caso, sopra o espírito em suas narinas da mesma forma que Deus soprou o
espírito da Vida em nós.
O Mito é sempre poético, já que a poesia é o recurso do
discurso para transcender a si mesmo. Nem a retórica mais elaborada tem o
alcance do poético para narrar com profundidade fatos que serão melhor
descritos se mantivermos, na sua descrição, o mesmo dinamismo e movimento próprio
das coisas vivas.
A Narrativa Histórica é como a dissecação do cadáver: estuda
e descreve pedaços de um organismo morto.
A Poesia e o Mito, ao contrário, permitem dialogar com seres
vivos, eternizando-os e preservando-os para além da degeneração material.
Por isso, ao descrever os estados profundos da alma,
encontraremos textos extremamente poéticos, não por outra razão a não ser
aquela de serem os mais adequados ao tema e os únicos capazes de preservar a vida
destes ensinamentos que, embora antigos, pulsam com força em nossa imaginação e
podem transformar, se compreendidos, se sentidos com o coração, a qualidade de
vida daqueles que os lêem.
marinho! você me arrepia com estes títulos nas iniciações.
ResponderExcluir