CRENÇAS ROSACRUCIANAS
por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Nesta seção, abordaremos crenças tipicamente
rosacrucianas. Falamos no ensaio anterior que existem dois tipos básicos de
místicos: aqueles de base religiosa e os espontâneos, tocados por uma predisposição
mística (PM) sem intermediários.
Os rosacruzes crêem que a presença de Deus e a influência
da Consciência Cósmica em suas vidas é permanente, banhando-os como uma chuva
ininterrupta de inspirações, intuições, orientações, enfim, que são recebidas,
processadas e transformam-se em uma ação sempre benéfica no Mundo da Vida (MV),
o Lebenswelt, um termo roubado e modificado por mim do filósofo alemão Jürgen
Habermas.
É óbvio no entanto, que perceber e usufruir desta inspiração
de modo claro, não é para todos.
Esta é uma parte importante do treinamento de um rosacruz: aprender a aceitar para captar
este fluxo de idéias a qualquer momento que precise, consciente ou mesmo
inconscientemente. É nisto que se baseia o conceito de Intuição na compreensão
do discurso rosacruciano, e para nós é esta Intuição que norteia nosso trabalho
científico.
Se, do ponto de vista da ciência ortodoxa, buscamos a
Verdade das coisas a partir das coisas, na ciência Intuitiva e Inspirada,
tipicamente rosacruciana, partimos das orientações recebidas do Altíssimo, que
nos oferecem vislumbres do Real, e iniciamos a busca por elementos que
demonstrem estes vislumbres, com o mesmo rigor que a ciência exige de si. E
aqui aproveito para fazer um parêntese histórico. Este rigor, não cientistas
ortodoxos, mas muitos rosacruzes esquecem, foi construído com uma contribuição
importante dos próprios rosacruzes.
Dos três pilares que sustentam o método científico moderno, (empirismo,
ceticismo metodológico e positivismo, o ater-se à experiência para
fundamentação do conhecimento científico) dois foram fornecidos pelo trabalho
intelectual de rosacruzes.
O empirismo, com Francis Bacon,
1° Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio ( Londres 22
de janeiro de 1561 — Londres 9 de abril de 1626); o Ceticismo
Metodológico, com René Descartes (La Haye em Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11
de fevereiro de 1651), enquanto o Positivismo , com Isidore Auguste Marie
François Xavier Comte (Montpellier, 19 de janeiro de 1798 —
Paris, 5 de setembro de 1857) estabelece a importância da observação dos fenômenos,
opondo-se ao racionalismo e ao idealismo.
Bacon e Descartes eram Rosacruzes.
Nós, rosacruzes, demos aos cientistas contemporâneos as bases do pensamento
científico. Devemos nos lembrar disto antes de criticá-los por olhar com
desconfiança e prudência intelectual (ceticismo metodológico) as nossas
assombrosas afirmações acerca de forças invisíveis ainda indemonstráveis que
atuam sobre o mundo material.
Ao olharem com reservas para estas afirmações os cientistas
estão apenas fazendo aquilo que devem e que os pensadores rosacruzes ensinaram
a fazer: pensar com cuidado, procurando evidências das afirmações em questão.
Os rosacruzes modernos, ao reclamarem do ceticismo
científico demonstram desconhecer a própria história da Ordem Rosacruz e de
seus luminares.
Continuando nosso raciocínio, o uso da Intuição como guia juntamente
com o Intelecto, é, pode-se dizer assim, o terceiro ponto deste triângulo
epistemológico que os rosacruzes vem construindo ao longo destes últimos 500
anos. É o próximo passo do conhecimento, dominar a arte de sentir a verdade,
não só surpreendê-la ou desnudá-la bruscamente, sempre de modo parcial, mas
vê-la de modo completo, tridimensional, evitando a armadilha da dualidade; o
Intelecto, neste caso, reservado-se à função de meio de expressão daquela
Inspiração e não seu aparente descobridor.
Para usar a Intuição é preciso treino . Pra começar este treino, é preciso antes ter sensibilidade. E esta sensibilidade só existe se o indivíduo possuir PM. São condições interligadas.
Na verdade, embora nem todos a percebam, todos os seres
humanos são banhados pela inspiração divina e quatro são, em geral, os tipos de
pessoas que a recebem: dois tipos religiosos, um com PM, o outro não; e dois
não religiosos, também um com PM, o outro não.
Quando ligadas a um discurso religioso X qualquer, as que
tem PM tenderão a refletir este estímulo no MV através da lente daquele
discurso religioso específico ao qual pertencem, o que modificará a natureza
primitiva desta intervenção, talvez distorcendo seu conteúdo; os que não tem
esta PM não apresentarão qualquer reação ao estímulo da Consciência Cósmica e
serão religiosos formais e sem conteúdo (ESQUEMA 1).
Já aqueles que recebem o influxo sem religiões organizadas
como intermediários, através da arte (poesia , musica, escultura, pintura), do
convívio com a natureza ou mesmo da filosofia, se possuírem a PM, terão a
tendência a agir no mundo, motivados por este chamado, mas o farão de modo
pessoal, idiossincrásico, de modo mais fiel à inspiração recebida do Altíssimo.(ESQUEMA
2)
Não poderemos rotulá-los com facilidade e acabarão dando um
nome novo a sua intervenção no mundo, fundando ou não uma nova religião.
ESQUEMA 1
(clique sobre o esquema para vê-lo ampliado)
(clique sobre o esquema para vê-lo ampliado)
ESQUEMA 2
Os seres humanos que não forem religiosos e nem tiverem PM ,
estes estarão em uma situação bastante difícil, apresentando-se geralmente apáticos,
sem nenhum interesse na comunidade humana ou na sociedade. Pessoas com PM
latente ou manifesta são altruístas. Pessoas sem PM latente ou manifesta, são
egoístas.(ESQUEMAS 1 e 2)
O DESPERTAR
O estímulo puro da Consciência Cósmica, quanto atinge alguém
com PM, é um influxo de inspiração, capaz de modificar a vida de um ser humano.
O que sabemos é que a PM se apresenta nos indivíduos em diferentes graus de
intensidade. Quando a inspiração cósmica banha um indivíduo que atingiu
determinado grau de PM ocorre uma reação peculiar conhecida pelo nome de despertar , um salto qualitativo,
resultante do acúmulo quantitativo de evolução espiritual, e a pessoa que
desperta recebe as vezes o título de Iluminado.
O despertar ou iluminação não significa no entanto, um
aperfeiçoamento completo do indivíduo. Trata-se apenas de um upgrade
espiritual, dando-lhe poder sobre as coisas da terra e uma determinação muito
maior na busca pela Luz do Espírito. Ser apenas um Iluminado, não basta.
O despertar em si não melhora o vocabulário do indivíduo ou
aumenta o número de informações objetivas em seu cérebro. É verdade que ele ganha
uma percepção melhor do Universo, mas ainda dependerá de seu próprio vocabulário
e da sua capacidade de linguagem específica para descrever as percepções que
recebeu.
Ou seja o desperto ou iluminado pode e deve melhorar sua
capacidade intelectual depois do despertar.
Não se trata, portanto, como muitos supõem, de um fenômeno terminal,
que desobrigue o indivíduo de continuar seu aperfeiçoamento, tanto espiritual
quanto material. E isto por causa do seu vínculo com toda a Humanidade, que
aumenta neste momento e o transforma em um servidor.E o iluminado serve
principalmente transformando mentes através de sua sabedoria, sabedoria esta
que ele expressará, entre outros modos, através da linguagem.
O caminho da evolução é infinito e mesmo o mais perfeito dos
seres precisa evoluir mais e mais. O ideal seria que este desenvolvimento
espiritual encontrasse um ser já cultural e intelectualmente elaborado, de forma
a que este estímulo cósmico resultasse em uma imediata intervenção no Mundo da
Vida didática, marcante e transformadora para muitos seres humanos que não
possuem nem um, nem outro tipo de Luz.
É exemplo de intervenção bem sucedida o fato de Jesus falar
por parábolas, linguagem adequada e de compreensão universal e atemporal.
Parábolas podem ser compreendidas na Palestina daqueles dias como no Brasil de
hoje. Puro didatismo, um intelecto preparado a serviço da espiritualidade
desperta. E isto ajuda e facilita a vida de quem vem depois, que ainda não
despertou, para as vicissitudes do caminho até o despertar, e depois.
É muito comum entre místicos e não místicos a admiração por
iniciados que atingiram o despertar, mas que não trazem consigo uma bagagem
intelectual que lhes permita transmitir uma mensagem clara do caminho que
percorreram, porém, se todos percorrerão o mesmo caminho e o desperto, o
iluminado, não é capaz de deixar migalhas de conhecimento orientando a direção
a seguir, ele é como o guia que foi tão na frente da caravana que se perdeu
dela.
É preciso dividir informações de percurso, estratégias,
físicas e espirituais, compartilhar enfim o que foi conseguido a duras penas
para que aqueles que vem depois de nós encontrem o caminho com mais facilidade.
Sim existem os sábios Mounis, silenciosos, tão importantes
quanto aqueles que falam. Mas o corpo de um santo irradia uma aura que abençoa
quem está a seus pés, quem é abençoado por sua santa presença, mas sua palavra
atravessa montanhas, os séculos, e vence a morte.
Vejam que mesmo os Mestres Silenciosos Mounis, tiveram
aqueles que escreveram por eles ou sobre eles, como Platão fez com Sócrates ou
Arthur Osborne com Ramana Ramarishi, o sábio silencioso do monte Arunachala.
Falar e dividir oralmente informações é um tipo de serviço.
Apenas isto. Mais amplo e capaz de atingir mais pessoas em muitas épocas e
lugares e é por isso que eu o destaco aqui.
O serviço expressa evolução, bem como a evolução só se
justifica no serviço.
Portanto, não basta ser iluminado, é preciso que essa luz
ajude a outros a encontrar o seu caminho em meio às trevas. É preciso que o
desperto tenha preparo intelectual para auxiliar aqueles a quem dirigirá sua
fala orientadora, adequando-a ao nível cultural e espiritual dos
interlocutores.
Ele precisa de educação, enfim, de cultura.
O fator cultural modifica e modula a intervenção no Mundo da
Vida daqueles que estão despertos.
Por isso, como existem Iluminados que nos abençoam com sua
presença neste mundo, existem entre eles também, níveis diferentes de cultura
intelectual e habilidade de expressão, o que diferencia a intervenção que estes
sábios poderão efetuar no Lebenswelt.
Reforço que esta cultura e este intelecto só tem uma
finalidade: facilitar o acesso de outros à sabedoria universal que mergulha pelo
Sahashara Chakra na mente do Iniciado.
Todo Iluminado é um médium de Deus.
Sua boca fala aquilo que Deus lhes inspira. Parafraseando
Paulo, não é mais ele que vive, mas Deus que vive nele.
É muito importante, portanto, entender que quando a inspiração
encontra um veículo preparado, este é um encontro feliz. A facilitação didática
da compreensão das verdades universais é um ato de misericórdia e que as
pessoas precisam receber subsídios para que alcancem mais rápida e seguramente
o nível daquele Iluminado que lhes fala. Porque todos nós estamos condenados a
sermos, de novo, Deus, não partes d'Ele, mas Ele mesmo, já que a gota que cai
no oceano, como gota já não existe, mas torna-se parte de todo o Mar a sua
volta.
Nós, seres humanos e animais ditos irracionais, plantas e
bactérias, todos somos apenas uma família, um único espírito, um único corpo.
Buscamos a fusão e a harmonização de nossos sentimentos,
valores e conhecimento. Só que tudo, no final, é conhecimento, e esta é, ao fim
e ao cabo, a função do Universo, este imenso laboratório de aperfeiçoamento e
expansão do conhecimento do Altíssimo.
Quanto mais partilhamos nosso conhecimento, mais cumprimos
nossa verdadeira missão neste mundo, mais nosso espírito ganha em evolução e
nobreza.
Nenhum Iluminado, por ser Iluminado, pode abster-se de
procurar dividir as visões inspiradas a que tem acesso, mas encontrará
dificuldades de expressão proporcionais a sua limitação intelectual, o que em
nada diminuirá sua santidade, porém impedirá que mais pessoas sejam alcançadas
pelas suas idéias, não só suas, em toda face da Terra. Estas são algumas das crenças
rosacrucianas. Aperfeiçoemos-nos sempre, mais e mais, espiritual e
intelectualmente.
Busquemos a Iluminação, mas não esqueçamos: ser Iluminado
apenas, para servir bem, não é o bastante.
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