Por Mario Sales
KU-THU-MI
EL MORYA
Tenho acompanhado as Lives da Sociedade Teosófica Brasileira acerca das
Cartas dos Mahatmas, que vem a ser o documento que mais me fascina em toda a
literatura teosófica.
A Doutrina Secreta é um livro vasto, denso, obscuro muitas vezes, e que
segundo os teósofos oferece um sem número de informações preciosas, às vezes
proféticas, em relação a realidade por trás do que normalmente vemos, ouvimos e
tocamos; mas todas essas coisas invisíveis, vagas, me parecem muito distantes
do real, pelo menos do real ordinário, para que me fascinem tanto quanto os
relatos das cartas escritas por Morya e Ku Thu Mi para Sinnett e Hume, na Índia
no século 19.
Sinnett
Hume
Uma das razões para esse fascínio pelas cartas tem a ver com o fato de
serem documentos extremamente humanos, que discutem exatamente as paixões, as
dificuldades dos aspectos morais ligados a vida de um iniciado, de um adepto ou
de um homem comum.
Na verdade, o que dificulta a vida do místico, segundo os próprios mestres
dizem, são suas crenças pessoais, suas atitudes psicológicas, isso é, o
confronto da busca da iluminação com a limitação de estar no corpo humano,
sujeito às oscilações hormonais, ao medo da morte física e do sofrimento, em
uma palavra, o medo da dor.
SERAPYS BEI, um dos mestres do núcleo egípcio
Não me entendam mal: isto não significa que eu ache que hoje, não ser
honrado não seja ainda algo fundamental para a vida em sociedade; no entanto,
dar importância à maledicência das pessoas já não tem a força, pelo menos para
a maioria dos seres humanos, que tinha na época do século XIX. Palavras
infelizes, comentários agressivos, infelizmente, fazem parte do dia a dia de
nossa imensa sociedade de 7 bilhões de pessoas.
Se fossemos valorizar acusações infundadas, (principalmente aquelas que
não se transformam em problemas legais), eivadas de sentimentos negativos,
marcadas mais pela inveja e pela ignorância do que por fatos objetivos, provavelmente
enlouqueceríamos. Não é viável, para uma pessoa equilibrada, dar atenção a
essas coisas.
A exposição pública traz esse tipo de situação, por isso compreendo
muito bem que os mestres tenham essa obsessão pelo anonimato e pelo silêncio para
que possam viver em paz, não permitindo que outras pessoas menos capazes suponham
que estão à disposição para quaisquer tipos de indagações, consultas ou
serviços pessoais.
Existe, entretanto, uma coisa que me incomoda sobremaneira,
principalmente nas últimas semanas, e essa coisa é a seguinte: durante as Lives
da STB fala-se muito do poder dos mestres, da sua capacidade de materializar
objetos e de fazer contatos telepáticos a uma distância gigantesca, como se
essas coisas fossem as mais importantes em relação a esses homens.
Minha dúvida é que já que são homens de poder imenso, mental, por que permitiram
que o TIBET fosse invadido? Como homens tão importantes, sempre
preocupados com a paz mundial, que relatam nas cartas estar sempre envolvidos
em negociações para evitar guerras e confrontos, não conseguiram fazer com que
o TIBET fosse poupado das barbaridades que a China comunista fez, com a
destruição de centenas de templos de mosteiros e o assassinato de centenas de monges?
Porque não impediram a subjugação da Cultura Tibetana ao padrão de
pensamento chinês, situação no mínimo paradoxal, se levarmos em consideração que
o TIBET era a casa desses mesmos mestres?
Parece um enorme buraco na muralha, uma falha numa narrativa que, a
primeira vista parece linear, mas que, na verdade, tem esse paradoxo pouco
esclarecido.
Como as Cartas dos Mahatmas se encerram em 1900 e a invasão do TIBET
acontece em 1950 anos precisamos indagar se nestes 50 anos, um espaço de tempo
pequeno para a vida dos mestres eles, de alguma forma, se mudaram de lá, ou
entregaram o país à própria sorte por alguma razão kármica, que não me vem a
mente como explicar.
Porque estados de sofrimento intenso geralmente estão ligados a punição
da soberba, do orgulho, ao uso inadequado dos poderes mentais etc., etc., etc.
Não me parece ser o caso do TIBET, habitado por pessoas simples,
tementes a religiosidade, altamente espiritualizadas, mesmo na sua simplicidade,
e que dedicaram toda a existência a preservar os registros das civilizações
terrestres exatamente da sandice de hordas bárbaras como aquelas do exército
chinês.
É uma coisa que me incomoda profundamente, e não vejo nenhum tipo de reflexão
a cerca desse dado, talvez devido a uma questão de natureza até pseudo
religiosa. Muitos encaram os mestres ascensos como deuses ou seres aos quais
deve-se prestar alguma reverência, de natureza templária, coisa que eles mesmos
pediram para que não acontecesse, insistindo em desmentir tal coisa como uma
prática saudável, já que por várias vezes, através de vários exemplos nas
cartas, eles deixam claro que são homens comuns que atingiram o mais alto nível
de evolução espiritual.
Então, é interessante colocar em aberto esse tipo de questionamento: por
que o TIBET foi invadido? Por que tal tragédia foi permitida? Por que o
Dalai Lama está exilado de seu próprio país, vivendo na Índia, sem a capacidade
de reinar sobre o povo que tanto o respeita e admira?
São dúvidas que me vem ao espírito, para as quais não tenho resposta; e
se alguém puder me auxiliar aceite minha eterna gratidão.