Mario Sales, FRC, SI
É comum ouvir em outros ambientes queixas de ausência de
reconhecimento pelos serviços prestados ou uma suposta falta de justiça ao
desempenho profissional ou pessoal.
Já vi muitas pessoas dilaceradas por essa angústia, sem que
eu pudesse fazer alguma coisa ou dizer alguma coisa que diminuísse seu
sofrimento e angustia.
E isto por uma única razão: suas queixas nada tinham a ver
com acontecimentos externos ou pelo comportamento de outras pessoas, fossem superiores
ou subordinados. Todo o sofrimento daquele individuo tinha a ver com seu próprio
Ego.
O curioso é que o Ego tem um papel fundamental na
individuação de uma pessoa, na assunção de responsabilidades pessoais e de um
papel qualquer social.
É através do Ego que reconhecemos nossas qualidades e deficiências,
que buscamos individualmente a evolução ou, às vezes, que mergulhamos em
processos de autoflagelamento psicológico.
O sofrimento que nos atinge, portanto, não tem a ver
necessariamente com o Ego em si mas com a compreensão que temos dele e de sua
relação com o todo a nossa volta.
O Ego é, como todas as nossas características psicológicas,
um instrumento que podemos usar para o bem ou para o mal; embora ele leve a
culpa por uma atitude autocentrada batizada inclusive de Egoismo, na verdade o
Ego é usado dentro de uma estratégia perversa, como bode expiatório de uma
atitude atrasada do ponto de vista espiritual.
Não é o Ego o problema, portanto, mas a maneira como o utilizamos.
Saber-nos indivíduos distintos socialmente ajuda apenas a qualificar
e especificar nossas necessidades espirituais e emocionais. Cada um de nós é
responsável por uma parte da criação e essa parte é exatamente o que fazemos de
nossa própria vida.
Pode parecer pouco, mas se multiplicarmos tudo o que cada um
vivencia emocionalmente pelo número de pessoas que existe no mundo, temos uma pálida
ideia daquilo a que me refiro.
Podemos, no entanto, achar que nosso trabalho social implica
algo que precisa de um reconhecimento especial, diferenciado, e isto pela
comparação com outras pessoas mais bem sucedidas e mais reconhecidas do que
achamos que somos.
O nome disso não é egocentrismo, mas inveja e insegurança.
Ilude-se quem acha que o universo é injusto ou que a fama é um sinal de
sucesso.
Ilude-se quem acha que seu trabalho não é devidamente
reconhecido e só pensa assim aquele que está fragilizado pela inveja e pela
imaturidade.
Na verdade, trabalhar e servir a sociedade, já deve ser em
si nossa própria recompensa e satisfação.
Se fizemos o melhor que podíamos ter feito, se produzimos
com amor aquilo que produzimos, se nossa intervenção no social trouxe benefício
a uma pessoa que seja, nossa recompensa deveria ser exatamente isso, ter
servido com dignidade, independente de quaisquer reconhecimentos.
Nossa guardiã e juiza é nossa consciência e apenas a ela
devemos satisfação e precisamos agradar.
Só nossa consciência nos diz quando devemos nos arrepender
ou nos orgulhar do nosso desempenho.
Quem, sabedor de sua incompetência e da pusilanimidade de
seu desempenho, se compraz em ser aplaudido por néscios e ignorantes, é um
néscio também e um tolo. Vive uma fantasia de sucesso que não resiste ao tempo
nem às análises mais cuidadosas.
Além disso, estamos as vezes falando de pessoas muito a
frente de seu tempo, que em vida não são nem reconhecidas nem tratadas com a importância
que mais tarde terão.
O que não quer dizer que não existam exemplos de indivíduos bem-sucedidos
e reconhecidos em vida.
Mas não são todos. Muitos foram vítimas do atraso da sociedade
e dos preconceitos que levaram a que outros e não eles recebessem o crédito por
descobertas as mais importantes. Reconhecimento, como soube Galileu, não é prova
de que seus argumentos e descobertas são ou não importantes.
Em épocas fúteis como a nossa, e foram muitas ao logo da história,
é preciso não se precipitar e entender que quem serve, serve porque quer servir
e não é obrigado a fazê-lo a não ser pela sua incontrolável produção pessoal,
sejam artistas, cientistas ou escritores.
E antes de tudo o serviço bem-feito deve ser um premio para
quem serve, despreocupado com o reconhecimento ou com os aplausos dos que
recebem este benefício.
Se servimos, sirvamos com alegria, pelo prazer de fazê-lo,
sem os grilhões de esperar reconhecimento pelo que se fez.
O resto é vaidade. Somente vaidade.
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