Por Mario Sales, FRC.:;S.:I.:;M.:M.:
Na aula que recomendei a todos que assistissem, onde Claudio Ulpiano fala sobre o conceito de Liberdade em Espinosa (http://www.youtube.com/watch?v=ip-qq9ELhUs) uma coisa que chama a atenção é o recurso didático que ele utiliza para esclarecer este mesmo conceito. Ao longo da exposição ele defenderá a tese de que, para Espinosa, um ser humano livre é aquele que é movido por “forças que vêm de dentro” enquanto o escravo, digamos assim é aquele que é refém de “forças que vêm de fora”. Toda vez que somos mobilizados por “forças que vêm de fora”, somos passivos, passividade essa que ele Espinosa chama de paixão, ao contrário do ser ativo, que influencia seu meio imediato, o homem de ação.
Mais nada precisamos dizer.
A imagem é límpida, cristalina. Liberdade é autonomia de decisão, do ponto de vista psicológico e emocional.
Não só as paixões dos outros corpos que nos circundam, mas também as nossas, são consideradas forças determinadas de fora para dentro, já que para o filósofo português, a paixão é determinada pelo desejo inconsciente, que elege um objeto fora de nós como essencial a nossa existência.
Auto-esclarecimento é, portanto, entender nossas necessidades, sejam elas quais forem, satisfazê-las do modo mais completo possível para garantir nossa subsistência e felicidade, mas tornando-nos principalmente conscientes delas, jamais jogando sobre necessidades legítimas quaisquer julgamentos de valor, quaisquer abordagens morais, já que nada é mais santo do que a própria fisiologia humana, e sua filha, segundo Espinosa, a psicologia humana.
Na verdade ele não privilegia uma ou outra e falar em mãe e filha é apenas uma figura de linguagem. Ambas interagem de tal maneira e com tal intensidade que dizer quem veio antes seria abominável, e injusto com uma filosofia tão brilhante, se bem que os materialistas adorariam jogar o princípio de tudo no corpo já que todo materialista tem um grave vício de compreensão do que seja matéria.
E isto porque, para os materialistas, matéria é o que é denso, e espiritual é o que é invisível, e provavelmente, por causa desta invisibilidade, falso e inexistente.
Para lembrar a fala do Prof. Sergio de Oliveira, cujo vídeo da palestra está lá nas profundezas do blog, ser materialista é acreditar em algo que não se vê, já que a matéria não tem luz própria, mas apenas reflete a luz que é lançada sobre ela, e crer em algo que não se toca, já que a sensação de densidade é dada pelo encontro de campos elétricos de trilhões de átomos, e não da matéria em si que eles compõem. Portanto, segundo Sergio, o materialista é aquele que crê em algo que não vê e que não toca, e por isso “é preciso muita fé para ser materialista”.
A noção de materialismo e imaterialismo desapareceu com o fortalecimento da física de partículas, a física quântica. No mundo do muito pequeno, o duro e o sólido não existem. Tudo é fluido e tem um comportamento errático e instável, para usar uma palavra sacrílega para a ciência, tudo é diáfano e espiritual, e não estamos falando de quaisquer aspectos religiosos, mas de física positivista, amparada em cálculos matemáticos perfeitamente racionais.
O psicológico é, portanto, apenas menos denso, mas tão material quanto o que nos parece mais denso e mais visível, por exemplo, nosso corpo físico. É disso que falava Espinosa, 400 anos antes de qualquer conhecimento quântico ou mesmo do nascimento de Max Planck.
Liberdade é isso, liberdade não só do corpo denso, mas mental, a liberdade mais essencial, do corpo menos denso, aonde vigoram os pensamentos, corpos menos densos ainda, mas ainda assim, materiais.
Essa é a verdadeira liberdade, se é que isto existe.
Aí, entretanto, já é outro assunto.
Como sempre ao lermos e relermos claudio ulpiano sob uma nova representação algo mais nos acrescenta, algo mais nasce dentro do mundo das idéias. Muito bom.
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