Por Mario Sales, FRC.:;S.:I.:;M.:M.:
"A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro." (Albert Einstein)
Primeiro é preciso deixar claro que a única intenção de Benedito ou Bento de Spinoza, o nome que adotou após ter sido banido pelos rabinos em uma cerimônia em tudo semelhante à uma excomunhão católica, era melhorar a qualidade do pensamento em sua época e nas épocas vindouras. E para ele, segundo comenta Will Durant, o maior inimigo deste pensamento adequado e correto não era o erro, como em Descartes, mas a superstição.
Numa época marcada por crendices, sua intenção era propor que, na busca por um pensamento que trabalhasse apenas com idéias claras e distintas, primeiro nos livrássemos das fantasias e atrelássemos nossa reflexão à experiência, não no sentido experimental positivista ainda, mas deixando para trás quaisquer outras possibilidades de usar o entendimento.
Desta forma estas fantasias, (que ele caracterizou para minha tristeza como "Imaginação", mas que, na verdade, tenho certeza, queria dizer superstição), que não tem fundamento em experiências concretas, seriam a fonte do erro e da perturbação do intelecto.
No Tratado da Reforma do Entendimento, parágrafo 84, como descrito na tradução de Ciro Mioranza da Editora Escala, encontramos o seguinte trecho:
“Assim, portanto, distinguimos entre a idéia verdadeira e as outras percepções e mostramos que as idéias fictícias, falsas, e outras, têm sua origem na imaginação, isto é, em certas sensações fortuitas e (por assim dizer) desprovidas de ligação, que não procedem do próprio poder da mente, mas de causas externas, segundo o corpo recebe movimentos variados, seja dormindo, seja desperto. Ou se isso agradar, que se entenda aqui por imaginação o que se quiser, contanto que seja algo de diverso do entendimento e onde a alma se revista da condição de paciente. Com certeza, pouco importa o modo de entendê-la, uma vez que saibamos que a imaginação é algo de vago e com a qual a alma sofre e que saibamos como libertar-nos dela com a ajuda do entendimento.”
Note-se que ele engloba na palavra imaginação, tão cara aos místicos rosacruzes, por motivos sabidos, todos os tipos de divagações inconseqüentes somadas a capacidade e abstração orientada.
A arte rosacruz de uso da imaginação, com esse comentário, é considerada apenas um delírio inconseqüente , uma fantasia que compromete a racionalidade, que prejudica os homens e não os auxilia em nada.
Qualquer rosacruz entende que isto é falso.
Kekulé
Imaginar, com habilidade e determinação, não é a mesma coisa que “sonhar de olhos abertos”. E fantasiar de modo inconseqüente também não pode ser relacionado a Imaginação de modo genérico .
Faltou a Spinoza, e isto estou seguro, distinguir a imaginação criativa de uma imaginação desorientada, descontrolada.
A força mais poderosa do mundo, Spinoza suspeitou corretamente, é a Imaginação. Só que não percebeu (ou pelo menos não escreveu sobre isso) que essa mesma Imaginação, hoje talvez o bem mais precioso do conjunto de commodities disponíveis no mercado mundial, só se torna prejudicial quando sem um foco, sem um objetivo, ou consequência de medos e crendices.
O que Spinoza combatia, e eu também combato, é a mente dominada pela superstição e por pensamentos e idéias não fundamentados, seja pelo raciocínio lógico ou pela experiência sólida. Segundo Spinoza, a imaginação só reage a coisas sensíveis, e talvez dever-se-ia dizer que deveria reagir apenas a coisas sensíveis, consciente de à quais corpos estaria reagindo, e não mergulhando em temores infundados porque inconsciente do papel da experiência na construção de seus receios. Lembremos do que ele diz neste mesmo texto do Tratado da Reforma do Entendimento, no parágrafo 82:
“... porque a imaginação é afetada unicamente pelos corpos.”
Existe outro modo de utilizar o poder imaginativo.
E este modo é amplamente conhecido e praticado pelos místicos rosacruzes, mas também é base para os avanços da tecnologia e principalmente, da ciência.
E este modo é amplamente conhecido e praticado pelos místicos rosacruzes, mas também é base para os avanços da tecnologia e principalmente, da ciência.
A imaginação precisa ser aperfeiçoada, não tratada como um problema em si.
Sem a imaginação, hoje sabemos, o intelecto estaria preso em suas próprias limitações.
Ao contrário do que Spinoza supunha, não é a imaginação o problema, mas a fantasia sem fundamentação, a imaginação sem rédeas, aquela semelhante as miragens do deserto, que nos faz ver coisas inexistentes, que nos ilude e confunde.
Já a imaginação a serviço do pensamento lógico é um instrumento poderoso para ultrapassar as margens do universo intelectual, pois o conhecimento não avançaria se nos baseássemos apenas no que conhecemos.
Se na época de Spinoza, como agora, a fantasia e a superstição eram inimigas de um pensamento correto, hoje continuam sendo, mas separadas conceitualmente da imaginação, que não é a vilã do pensamento correto, mas sua principal auxiliar.
Foi imaginando e depois tentando descrever imagens matematicamente, que Einstein elaborou duas teorias que modificaram a visão da física; foi sonhando que tanto Descartes como Kekulé (Friedrich August Kekulé von Stradonitz) elaboraram grandes sínteses intelectuais, o primeiro uma linha de raciocínio fundamental ao pensamento moderno (o ceticismo metodológico) e o outro, a estrutura hexagonal do Benzeno. Ao contrário do que possa parecer, a imaginação é como uma lâmina e é o seu uso e não ela em si que determina sua utilidade ou perigo para o pensamento racional.
Negar à imaginação este papel é privar o pensamento do único elemento mental conhecido, além dele mesmo, para compreender a realidade de maneira mais profunda.
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