por Mario Sales
Como responsável por dois anos pela monitoria cultural de
minha região da AMORC, elegi como tema prioritário a discussão do fenômeno da
superstição.
Como místicos, para lembrar uma frase de um livro de
Somerset Maugham, andam no fio da navalha, entre um mundo invisível e outro
visível, manter um atitude equilibrada e uma mente clara, livre da superstição,
é na maioria das vêzes muito difícil.
O conceito de Egrégora sofre com este fenômeno e mais de uma
vez senti no tom de voz de alguns irmãos um pressuposto de que "uma vez
que estamos envolvidos na egrégora estaremos protegidos de todo mal".
Lembremos que informações históricas dão conta de que nosso
imperator entre os séculos XVI/XVII, Francis Bacon, após uma vida de glória, acabou
seus dias, não com serenidade, mas na masmorra da torre de Londres, ou que
nosso irmão, o sublime mago e alquimista Cagliostro, Giusepe Bálsamo, terminou seus
dias, da mesma maneira, na prisão da Bastilha. Lembremos ainda Lavoisier, irmão da
rosacruz, barbaramente decapitado na Revolução Francesa.
Estes eram rosacruzes da elite, irmãos que encarnavam em si
o espírito da Ordem em suas épocas.
Não podemos negar que estes homens estava mergulhados na
egrégora da Ordem, a qual não os protegeu de destinos trágicos.
Para ficarmos em exemplos mais próximos, lembremos meus
cursos na Morada do Silêncio, de revisão do sexto grau de Templo, o grau da
Terapia Rosacruz.
Lá, em ambiente absolutamente tranquilo e propicio,
discutimos aspectos da aplicação da técnica de cura dos rosacruzes, baseada na
harmonização interna das energias do corpo e da mente.
Pois é exatamente lá que recebo, não todos, mas muitos
rosacruzes altamente debilitados, com histórias pessoais de dificuldades graves
de sua saúde, ou em andamento, ou pela qual teriam passado recentemente.
Já li na revista O Rosacruz, faz algum tempo um artigo cujo
título era sugestivo: "Porque tantos rosacruzes adoecem?", como a
questionar que os portadores de um conhecimento milenar de domínio sobre os
elementos básicos de uma vida equilibrada, fossem, ao mesmo tempo, incapazes de
aplicá-lo. Neste caso a Egrégora não teve um
papel de escudo contra o mal, se é que podemos usar esta expressão, a qual
implica em uma compreensão supersticiosa do papel do fenômeno energético da
egrégora ( do grego egrêgorein,
velar, vigiar) em si. A egrégora é um campo que
interliga uma assembléia focada em objetivos comuns.Como o pensamento é energia e cada
pensamento tem um padrão vibracional próprio, se muitas mentes comungarem
pensamentos iguais, valores iguais, acabarão harmonizando-se umas com as outras
e este somatório de mentes harmonizadas será conhecida como a egrégora. Quando acontece tal harmonização,
não estabelecemos um campo de proteção, mas um campo de vibração comum, aonde
compartilharemos um único padrão mental só se a qualidade dos pensamentos for
muito, muito semelhante. Na maioria das vezes, como os
padrões mentais dos envolvidos nesta egrégora são muito heterogêneos, o campo é
a resultante do encontro destes padrões mentais individuais diversificados,
podendo em alguns casos elevar o padrão vibratório de um indivíduo, mas, da
mesma forma, rebaixar o padrão vibratório de outro. Neste sentido, um sadhu e gúru da
Índia moderna, Ramana Maharishi, dizia que a ignomínia de um único homem
rebaixa toda a humanidade, da mesma forma que o gesto de bondade de um único
ser humano eleva toda a Humanidade. Assim, na verdade o que uma
egrégora faz é partilhar o karma de uma determinada Organização ou grupo e não
proteger este grupo, indivíduo por indivíduo, de algum mal físico ou mental. A Lei do Karma funciona para todos
nós e cada um de nós é responsável por seu próprio karma. O fato de pertencer a esta ou
aquela escola esotérica não nos torna isentos de responsabilidades pessoais seja
perante o Universo, seja perante nossa própria história pessoal. Egrégora é comunhão, não proteção,
é o encontro de mentes, que a partir disso, começam a ser alimentadas com
informações ligadas aquele tipo específico de comunhão, como inspiração para
compreensão de determinados conceitos místicos mais elevados. Proteção verdadeira é aquela que
advém de uma vida física e mental serena e da colocação de nossa existência
totalmente nas mãos do Altíssimo, ou pela oração ou pelo estado devocional
semelhante ao dos bakhtis yogues. Isto sim gera um bom karma.
Todas as acções que o corpo realizará já estão decididas quando este corpo começa a existir: a única liberdade que se tem é a de se identificar ou não ao corpo.
ResponderExcluirSe não fosse pela nossa crença de que o mundo é real seria muito fácil para nós obtermos a revelação do Ser. O maior assombro é este − que nós, apesar de sermos sempre o Ser Real, nos esforçamos para nos unir a Ele. Surgirá o dia em que nos riremos dos nossos esforços actuais para atingir essa finalidade. Mas isso, que acontecerá nesse dia de risos, existe mesmo actualmente – a Verdade. Pois não temos de nos transformar nesse Ser? Nós somos Ele.
Descubra quem é o predestinado e quem tem o livre-arbítrio?
[Bhagavan Ramana Maharshi]
Prezado Frater Mário,
ResponderExcluirSolicito, por gentileza, o ilustre irmão reflita um pouco mais sobre o aspecto da Proteção, levando em conta o aspecto vibracional.
Um fraternal abraço,
Fernando Monteiro