por Mario Sales
Existe um grande desespero na maioria das pessoas, uma enorme falta de espírito e de alma, que etimologicamente nomearíamos como um des-animus. Todos tem problemas e grande parte da humanidade acredita que seus problemas são os piores e os mais importantes e que suas mágoas e angústias deveriam sim receber uma maior atenção de pessoas, anjos, santos, mestres invisíveis, e até de Deus.
É uma forma de imaturidade psicológica, que faz a pessoa em questão considerar-se presunçosamente o centro do Universo.
Este tipo de comportamento mental é de interesse muito mais psicológico do que místico. Este é um ponto recorrente do meu discurso, de que aos místicos deveria ser recomendado uma avaliação psicológica antes de entrar no ambiente esotérico.
Se o esoterismo e o misticismo não é para todos, imagine o Ocultismo. Saint Martin alertava quanto a isto. O Ocultismo pode ser fonte de sofrimento e até de loucura, não é um caminho seguro, muito menos prático.
Ferdinand de Saussure
Quanto ao aspecto psicológico, basta ler o último capítulo do livro "Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios" de H.Spencer Lewis, que se intitulava na edição antiga da Coleção Renes, "O Esqueleto no Armário", ressaltando que o fracasso na arte da visualização criativa , na maioria das vezes se dava , não por deficiência da técnica, mas por imaturidade psicológica do praticante, que na maioria das vezes está bloqueado por complexos e inseguranças provenientes de questões de natureza pessoal.
Pessoas com estas limitações não conseguem sequer dialogar ou compreender um argumento que lhes seja apresentado, tamanho o grau de pré-conceitos e limitações que possui em seu interior.
Não é possível con -versar com elas, falar com elas.
Porque apenas falar não é, pois, suficiente, para se transmitir uma mensagem.
É preciso que existam do outro lado pessoas dispostas ou capazes de escutar o que está sendo dito, capacidade esta que não é uma opção, mas uma condição, existente ou não existente. Algumas pessoas sabem ouvir, sabem receber uma determinada mensagem, sem resistência, sem atropelos, sem dramas, o que não quer dizer que concordem com o que estão recebendo, com o que estão ouvindo.
Existem pessoas especiais que sabem escutar e que escutam com todo o seu ser.
Não querem apenas ser ouvidos, por causa de um desespero às vezes inconsciente por consolo para sua dor em viver uma vida aparentemente insuportável.
Sabem ser passivos e ativos de maneira harmonica.
Como são bons ouvintes também são bons falantes, os falantes de Saussure, o linguista suíço (Ferdinand de Saussure Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de 1913).
Falam com pausas, alternando som e silêncio, com ritmo, seguindo uma linha de raciocínio clara, analisável, passível de ser decomposta e criticada.
Só o pensamento claro permite a análise. Ele jamais é autoritário, porque dada a sua clareza seus pressupostos são transparentes, não estão ocultos por expressões vagas, genéricas e opacas, não estão distorcidos por palavras de ordem, chavões ou lugares comuns.
Edmund Husserl
Não são completos por que nada o é, e portanto facilitam outras perspectivas, outras maneiras de contemplação, como uma figura geométrica oca.
Como não são completos, porque nada o é, inserem-se na classificação de degraus, e não de escada pronta.
Permitem um ou dois passos de evolução no pensamento de quem os escuta, mas não oferecem todo o processo de ascensão. Outros degraus podem ser acrescentados a ele e por isso, e apenas por isso, servem ao seu papel de contribuir para a construção da escada na sua completude.
Pensamento claro é um atributo de ouvintes competentes para receber qualquer mensagem, e depois de analisá-la, retransmiti-la aperfeiçoada e enriquecida pelas emendas de um intelecto ativo, que constrói junto com outros construtores a realidade a nossa volta.
Deus fez o homem, diz o Cabala, para retificar a Criação, corrigi-la, aperfeiçoá-la, criá-la e recriá-la junto com Ele, porque nada está pronto, tudo em nós e fora de nós é um processo em andamento.
Quem permite assim um tal fluxo de vida transpassar seu ser garante quantidade infinita de inspiração, uma energia sempre fresca e renovada, como a água de um riacho que passa livre entre as pedras, sempre transparente, sempre limpa.
Uma outra imagem: é a janela mais transparente que permite a melhor passagem da luz do Sol.
Sempre que ouvirmos um argumento, que lermos um texto, é preciso que ouçamos e leiamos com a mente adequadamente vazia de preconceitos, o que em filosofia chama-se Fenomenologia, a brilhante ferramenta de Husserl, Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de Abril de 1859 — Friburgo, 26 de Abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão.
Dizia ele que era impossível despir-se de preconceitos ao analisar uma idéia, mas era possível, para alcançá-la em seu sentido mais fiel, retirar da nossa primeira compreensão daquela idéia nossos próprios pressupostos preconceituosos, o que ele chamava de "redução fenomenológica", e eu chamava na faculdade de descascar a cebola, casca por casca.
O que resta, depois de retirarmos nossas próprias idéias, é a idéia verdadeira, não o nada, pois o Universo, é um axioma do misticismo, não tolera o vácuo ou a inércia.
Quando falamos em Nada, portanto, falamos não da inexistência, mas de uma diminuição importante do entulho das idéias e processos mentais que impedem a percepção interna e externa da Voz do Silêncio, como chamava Blavatsky.
Não devemos temer, portanto, o chamado Nada.
Este pseudo-nada é uma ferramenta importante até para aprendermos a ouvir o outro, para realmente conseguirmos escutar o que o outro quer realmente nos dizer, sem precipitação, ansiedade ou hostilidade.
Depois de uma boa escuta, nem mesmo palavras são necessárias. O silêncio pode ser, quando oportuno, a única resposta possível e a única realmente necessária.
Voces devem estar se perguntando do porque desta reflexão, já que tudo na vida, menis o Altíssimo, tem explicação.
É por que voces não recebem os comentários que eu recebo.
Se recebessem, o sentido de todo este arrazoado ficaria muito, mas muito mais claro.
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