UM EXERCÍCIO SOLITÁRIO, POÉTICO E FILOSÓFICO, BASEADO NO PRECEITO ROSACRUZ DA MAIS COMPLETA LIBERDADE (POSSÍVEL) DENTRO DA MAIS PERFEITA TOLERÂNCIA (POSSÍVEL). O MARTINISMO E O ROSACRUCIANISMO COMO REFLEXÃO.
Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).
sábado, 31 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
COMENTÁRIOS SOBRE O TRATADO DA PEDRA FILOSOFAL, de LAMBSPRING
Por Mario Sales, FRC, SI
A pedido de uma sóror de Santos, SP, começamos a estudar um
texto clássico da Ordem, “O Casamento Alquímico de Cristian Rosencreutz” (1616),
que junto com Fama Fraternitatis, também intitulado Fama Fraternitatis Roseae Crucis oder Die Bruderschaft des Ordens der
Rosenkreuzer (1614) e Confessio Fraternitatis (1615) compõem a Trilogia de
manifestos rosacruzes. Temos usado para este estudo, via Skipe, a publicação da
AMORC que reúne os três manifestos, ainda sob a coordenação e supervisão de
nosso antigo e saudoso Grande Mestre, Charles Vega Parucker, de 1998.
Jamais imaginei que depois das dificuldades que nos últimos
três anos tenho encontrado para me acostumar com a terminologia e arcabouço de
conceitos teosóficos, com a ajuda paciente e fraterna de Mestre Flavio, eu
encontraria outro texto de natureza hermética equivalente.
Equivalente, por sinal, em complexidade, não é um adjetivo justo para o Casamento Alquímico, mas minha afinidade pela alquimia era mínima e minha ignorância de sua simbologia, imensa.
Durante a primeira leitura, saltava aos olhos o simbolismo quase ingênuo de certas imagens, mas como um hermeneuta prudente ainda me sentia inseguro de concluir pela interpretação deste ou daquele signo sem o apoio de um texto base.
Equivalente, por sinal, em complexidade, não é um adjetivo justo para o Casamento Alquímico, mas minha afinidade pela alquimia era mínima e minha ignorância de sua simbologia, imensa.
Durante a primeira leitura, saltava aos olhos o simbolismo quase ingênuo de certas imagens, mas como um hermeneuta prudente ainda me sentia inseguro de concluir pela interpretação deste ou daquele signo sem o apoio de um texto base.
Américo Somermann
Para minha felicidade, e atendendo a minha visualização, por motivos de estarmos no mesmo evento neste fim de semana, em Ribeirão Preto, confraternizei com Américo Somermann, este Editor corajoso que facilitou a todos os esoteristas brasileiros, acesso a textos fundamentais para Rosacruzes, mas muito mais para Martinistas, considerando que a espinha dorsal da Obra de Jacob Boheme foi traduzida.
Américo levou para divulgação vários exemplares das publicações da Polar, mas dois ou três me chamaram atenção, já que os outros eu já possuía.
Entre estes, cito especificamente O Tratado da Pedra Filosofal, de Lamb-spring, ou Lambsprink provavelmente um pseudônimo, em dois volumes.
Patrick Paul
A edição como tudo que a Polar publicou, é de uma elegância e beleza inspiradoras,traduzida por Marly Segreto, da de Patrick Paul (Livre docente em Ciências da Educação, doutor em Medicina e em Ciências da Educação, mestre em Ciências [Microbiologia] e em Antropologia, atualmente é Professor Visitante da Faculdade de Medicina da USP) ; o texto, do século XIV ou XV, é primoroso, publicado em dois volumes, e foi referência no estudo alquímico para famosos esoteristas ao longo dos séculos. Patrick Paul, por sinal, é uma figura constante na Ed. Polar (vide O Paradoxo do Nada, em 2011). Imediatamente vi que estes eram os tais textos de apoio que necessitava para continuar minha exegese do Casamento Alquímico. Ontem e hoje os folheei, curioso.
Marly Segreto
O interessante é que, embora minha expectativa fosse ter suporte para um estudo alquímico, fui surpreendido pelo fato de que o
Autor, dada sua erudição, descreve e explica as imagens alquímicas do livro
lançando mão de conceitos cabalísticos.
É o caso da página 195 aonde lemos: “ O Centro Frontal enunciado na Ioga está aberto. Essa mesma
passagem corresponde, na Cabala, à entrada no mundo de Briah e ao acesso à
Tiferet. Ela é considerada, na Cabala, como a travessia de um véu (o Parohet)[1]que separa as quatro
sephirot inferiores das seis superiores (as quais, por sua vez, são separadas
de três em três por outro véu, o dos Abismos). Essa travessia, que abre acesso
a outro nível de realidade, é chamada de Obra em Branco. ”[2]
Para minha alegria, descubro um texto explicado em termos cabalísticos, o que, para usar uma expressão típica da minha terra, o Rio de Janeiro, é mais a minha praia. Muito bom. Acredito que será uma grande leitura, enriquecedora e esclarecedora. Mãos a obra.
Para minha alegria, descubro um texto explicado em termos cabalísticos, o que, para usar uma expressão típica da minha terra, o Rio de Janeiro, é mais a minha praia. Muito bom. Acredito que será uma grande leitura, enriquecedora e esclarecedora. Mãos a obra.
[1]Que eu, Mario, chamo de Paroketh.
[2] Meditações sobre o Tratado da Pedra Filosofal de Lambspring, pág.195. Ed Polar, vol 1, 2014
domingo, 11 de dezembro de 2016
CRIAÇÃO MENTAL, PÁSSAROS E GAIOLAS
por Mario Sales, FRC,SI
Trabalho apresentado na Casa Dom Luiz, em Brodowsky, dia 10 de dezembro de 2016, em seminário da Loja Ribeirão Preto.
O TERAPEUTA, de Magritte
Todo o universo do conhecimento rosacruz se baseia, apenas,
em dois pilares: uma certa palavra e a técnica de criação mental.
É uma afirmação forte, porém fiel à importância destes dois conhecimentos
técnicos, que são ao mesmo tempo impressionantes quanto aos seus efeitos quanto
fáceis de demonstrar. São possíveis de serem testados quanto a sua eficácia, podem
ser verificados, portanto; e apresentam a característica da reprodutibilidade.
Um não iniciado pode e deve usar estes conhecimentos como
test-drive esotérico, de forma a saber se vale ou não a pena tornar-se membro
desta nobre e antiga Ordem de curiosos e dedicados estudantes.
Por motivos os quais não precisamos discutir, falarei apenas
sobre a segunda técnica, a de criação mental.
Da maneira mais resumida possível, a técnica de criação
mental é baseada em criar e libertar.
Pensem em um animal frágil, encontrado ao relento, um
pássaro, por exemplo.
Imaginem que vocês o recolham, cheios de piedade, e cuidem
dele e de seus ferimentos, aquecendo-o, alimentando-o, fortalecendo-o, dando a
ele ânimo e vigor.
Eventualmente este animal, antes combalido e à beira da
morte, mostrar-se-á cheio de energia e vitalidade.
Agora, neste exato momento em que vocês percebem que ele já
tem condições de “voar com suas próprias asas”, conscientes de que nenhum
pássaro deve ficar aprisionado, levam-no ainda em uma gaiola, até a borda da
floresta, e ali, no seu habitat, abrem a porta para que ele saia e voe em
liberdade em busca de sua própria existência.
Esta imagem ecológica e romântica de libertação é a essência
do método rosacruz de criação mental.
Cada imagem, cada pensamento, devem ser construídos
cuidadosamente da mesma forma como cuidamos e fortalecemos o pássaro do
exemplo.
Uma vez que o pensamento, ou melhor, a imagem que o
representa estiver nítida e clara, deve ser liberada para o espaço, de forma
irreversível, sendo que a melhor maneira de fazê-lo é lançando mão de
atividades diferentes, envolvendo-se em assuntos profissionais, dedicando-se a
trabalhos manuais, mas de qualquer forma, dirigindo nosso foco de atenção para
outro ponto de forma a esquecer completamente da imagem liberada.
É uma profunda e esotérica verdade que os olhos do corpo ou
os da mente não são apenas captadores de imagens, mas são também projetores que
geram realidades.
Desviando nosso olhar externo ou interno de determinado
foco, permitimos que aquilo que antes era objeto de nossa atenção voe livre
para longe de nossa influência ou controle.
O bom criador deve ser capaz de libertar seus construtos
mentais da mesma forma que o pássaro do exemplo foi libertado, sem acompanhar
seu vôo, sem ficar para testemunhar seu afastamento progressivo, de
preferência.
Aberta a gaiola e saindo o pássaro, voltamos as costas e
seguimos nosso rumo, confiantes que nosso papel neste processo já foi
desempenhado e que agora, como sempre, tudo está nas mãos do Altíssimo e de
suas leis.
Outro aspecto do dom de criar é que ele é democrático.
Toda pessoa pode e deve usar esta habilidade para criar o
tipo de vida que deseja, considerando, óbvio, que a mente move o corpo, e o
corpo age no mundo, tanto quanto a mente.
Portanto a criação mental não é um ato apenas intelectual.
É um ato da imaginação e não um ato imaginário.
O pensamento criativo mobiliza forças e energias no mundo da
vida, no mundo concreto, e é preciso deixar claro que isto só é possível porque
a mente e o corpo não têm uma real separação como supõe a nossa vã filosofia.
Exatamente porque acreditamos nisso, ou seja, porque temos
esta crença arraigada de que o invisível e o visível estão separados, mesmo
após a psicanálise ter demonstrado no século passado a influência devastadora e
inequívoca dos pensamentos nos comportamentos, de novo, do imaterial no
material, ainda assim, no início do século XXI, o senso comum acredita que o
que acontece na mente fica restrito a mente e o que acontece no corpo fica
restrito ao corpo.
Eu costumo brincar com meus pacientes ou interlocutores que
menosprezam o papel da mente no corpo e, por extensão, na vida social concreta,
através do corpo, que essa separação só seria possível se não existisse o
pescoço.
Como o pescoço existe, o que está em cima desce e o que está
em baixo sobe.
Esta percepção aparentemente banal, ainda não totalmente
assimilada, foi enunciada por um filósofo alemão, Schopenhauer, já no século
XIX, o que deu base para o trabalho de Nietzsche e depois de Freud.
Isto tudo para ficar no campo do comportamento.
O Esoterismo vai além, e ensina que a influência da mente e
dos pensamentos no real transcende o instrumento corpóreo, agindo diretamente
no complexo jogo de forças sociais, de maneira a construir uma realidade que preencha
o campo energético gerado pelo desejo do imaginador, ou, para usar uma
palavra antiga e elegante em esoterismo, do conjurador.
Visualizar o objeto do desejo é planejar aquilo que se quer,
é antecipar com clareza os detalhes essenciais da Obra, de tal maneira que,
certas vezes, chegamos à conclusão de que o objeto de nosso desejo não é tão
imprescindível como parecia.
A ARTE E A TÉCNICA DE VISUALIZAR
Três coisas são necessárias para executar a Visualização
Criativa: a primeira, e mais importante, é que desejemos materializar algo de real
necessidade, que não seja apenas um capricho, mas uma demanda que se
origina no coração mais do que na cabeça; a segunda é ter uma idéia clara do que é
fundamental no que se deseja e não dos detalhes periféricos do objeto;
e a terceira e última é visualizar com nitidez e serenidade, a
imagem símbolo do desejo, para depois libertá-la no espaço, como o
pássaro da história inicial.
Vamos trabalhar cada item separadamente.
1. O
DESEJO DO CORAÇÃO
Porque desejamos algo? Em primeiro lugar, porque supomos que
precisamos deste algo que desejamos.
A sabedoria ensina, no entanto, que esta suposição nem
sempre se fundamenta na verdade.
A existência depende da satisfação de cinco necessidades
básicas: Ar, Água, Alimento, Abrigo e Afeto.
Vejam, a felicidade não é uma necessidade básica.
O estado de felicidade implica uma alegria na existência que
decorre da satisfação destas necessidades, mas em si não é uma necessidade. O
que não quer dizer que a vida triste seja natural ou que as tristezas sejam
mais numerosas que as alegrias.
Uma vez que estes cinco “As” estejam preenchidos,
desfrutaremos de bem-estar. O que pode muito bem nos jogar em uma perigosa zona
de conforto que nos paralisará e inibirá a evolução.
Portanto, eu colocaria um sexto “A” como necessidade básica
juntamente com as outras já descritas.
Juntamente com Ar, Água, Alimento, Abrigo e Afeto, devemos
preencher a necessidade do Aperfeiçoamento.
Precisamos, todos, melhorar como pessoas.
É isto que fazemos desde o berço: evoluímos.
E aí começa nosso sofrimento.
O que é melhorar, evoluir, aperfeiçoar-se? É satisfazer as
cinco necessidades básicas? Ou é ir além do básico?
Aperfeiçoa-se quem domina as coisas do corpo e da matéria ou
aquele que se fortalece no espírito?
Aperfeiçoamento é algo sempre visível ou trata-se de algo
interior e profundo, essencial, e nas palavras de Saint Exupéry, por ser
essencial, invisível aos olhos?
Nossa vida profissional pode muito bem ser exemplo disso.
Como profissionais, temos que ter um desempenho visível e
manifesto de nossa competência, além de um conhecimento intelectual ou uma
sensibilidade invisível que são percebidos quando abrimos nossa boca e fazemos
uma intervenção qualquer no fluxo dos acontecimentos da sociedade.
É aí que o invisível se revela. E tudo isso, o exterior,
visível e o interior, invisível, são partes de nosso aperfeiçoamento, porém o
mais profundo sempre será a sustentação do mais externo.
Por mais belo que seja o prédio, sem fundações sólidas,
desmoronará. Por isso nossa solidez moral e pessoal depende do inefável e é
nele que devemos investir nossos esforços em busca de aperfeiçoamento. Viemos a
este mundo para participar da criação do mundo, dia após dia, ação após ação,
recolhendo os cacos de Isac Luria e juntando-os numa única peça. E para isso,
precisamos de habilidade. Quanto mais hábeis, quanto mais preparados e
aperfeiçoados, mais colaboraremos na grande obra, da qual somos construtores e
desfrutadores.
Não existe o gênio anônimo. Existem sim aqueles que, com seu
talento, criatividade e imaginação modificam o mundo a sua volta, enquanto
outros permanecem presos a fantasias de grandeza paralelas ao que chamamos de
Mundo da Vida Real.
Portanto, parte do nosso aperfeiçoamento, seja ele
intelectual ou profissional, será visível aos olhos daqueles que conosco
convivem; uma outra parte, que garantirá e sustentará esta competência visível,
permanecerá oculta em nosso ser, na profundidade de nosso espírito, e só poderá
ser percebido por nós mesmos ou por pessoas de rara sensibilidade.
É muito bom que recebamos elogios por nosso desempenho
visível, mas só nosso guardião interno, nossa Consciência, conhece tanto ou
mais do que nós, nossas dúvidas e inseguranças.
É a este guardião que prestamos contas em última análise e é
apenas quando temos sua aprovação que nos sentimos realmente satisfeitos com
nossa vida pessoal e social.
Repetindo: aquilo que nos faz pessoas satisfeitas e
bem-sucedidas está invisível dentro de nós, e mesmo o resultado externo visível
de nossa competência só existe por causa deste mundo interior.
Não importa, desta forma, que tenhamos ou não riquezas
exteriores e materiais ou mesmo uma reputação, ou fama na sociedade se
interiormente não estivermos em harmonia com nossa Consciência, que vela e
cuida de nossos dias, zelando por nosso equilíbrio.
O sexto “A”, Aperfeiçoamento, está ligado a este estado de
harmonia com a Consciência, que julgará, soberana, se realmente nos
aperfeiçoamos ou não, se estamos evoluindo ou não, se nossas conquistas são
banais e efêmeras ou se representam sólidos fundamentos para o crescimento de
nosso espírito.
Quando desejamos coisas materiais e externas, devemos estar
atentos a se aquilo que desejamos nos fortalece interiormente ou se apenas trata-se
de um desejo superficial por alguma coisa que não é fundamental a nossa
existência. Pode-se desejar o que se quiser desejar, mas não se deve equivocadamente
caracterizar um desejo banal como algo essencial.
Por isso dizemos que nosso desejo deve sempre vir de nosso
coração, representando uma necessidade básica real, que satisfaça aqueles cinco
“As” já citados.
2. TER
UMA IDÉIA CLARA E NÍTIDA
Uma vez que a nossa demanda seja legítima inicia-se o
processo de organização da imagem, o tratamento do pássaro ferido da nossa
história.
Devemos começar por partes e um protocolo bastante simples é
colocar em uma página em branco tudo que vier a nossa cabeça em relação aquilo
que desejamos.
Vamos usar um exemplo prático, supondo que queiramos uma
casa nova.
Suponha que você more em um apartamento, pagando um aluguel,
e você deseja mudar para uma casa própria, aonde sua família consiga ter
conforto, Abrigo, livrando-se assim de uma dívida mensal improdutiva.
Como vou visualizar a minha nova casa?
Devo considerar em minha visualização o valor financeiro da
transação?
Não, o Universo não trabalha com esses pressupostos.
Para o Universo, dinheiro é um meio e não um fim e raramente
é a questão fundamental em um desejo.
O que realmente importa é aquilo que você deseja, ou seja,
aquilo que você compraria ou conseguiria com esse dinheiro.
Se você tem ou não os recursos para conseguir o que você
quer no momento, isso não tem a mínima importância para o método de Criação
Mental, pois os meios surgirão desde que se defina com CLAREZA E NITIDEZ, os
fins.
Lembremos de Mateus, 7:7: “Pedi e dar-se-vos-á; buscai e
encontrareis; batei e abrir-se-vos-á.”
Este versículo começa com o imperativo “Pedi”, que implica
em transmitir à Mente Cósmica aquilo que desejamos com clareza. E qual é a
linguagem de todos os mundos? A Imagem Mental, aquela mesma que depois de ser
visualizada interiormente será descrita em palavras, em várias línguas
diferentes.
Só que antes de ser transformada em palavras, uma Imagem é
uma Imagem, e esta Imagem é a língua do Universo.
O que se vê não precisa ser descrito.
Não preciso pensar nos recursos porque essa é a parte do
Universo, não a sua. Sua parte é pedir, com clareza imagística. Veja em sua
mente a imagem do que você quer, este é o pedido em linguagem Universal.
E o que devo ver em relação a minha casa?
A cor das paredes, se é no alto de um monte, se é uma
determinada rua ou bairro, se tem gerânios nas janelas?
Na verdade, o que é material serve apenas para abrigar o
imaterial. Ou seja, o que queremos de uma casa própria é que seja confortável,
acolhedora, segura. Que nesta casa todos os membros da família se sintam bem,
que exista alegria dentro de suas paredes. Se será grande ou pequena de paredes
amarelas ou brancas, com janelas verdes ou azuis, de dois ou de um único andar,
deixemos a critério d´Aquele que conhece aquilo que vai no nosso coração antes
que nós o conheçamos, e que vive em todas as épocas, em todas as partes, em
todos os tempos.
Sua Divina solução para nosso pedido será, com certeza, melhor
do que a melhor solução que pudéssemos imaginar.
Portanto, como no tratamento do pássaro, vamos alimentar
nosso desejo com ar, água, alimento adequados e dar abrigo e proteção à nossa
idéia enquanto ela se fortalece, deixando que a natureza faça a sua parte, e a
partir de nossos estímulos garanta a vitalidade da idéia e do desejo.
Em uma casa realmente satisfatória, importam mais suas
qualidades operacionais do que sua aparência externa se bem que não se quer
dizer com isso que a aparência externa seja algo a se desprezar. A beleza e
elegância do Universo demonstram que a Consciência Cósmica, como os rosacruzes
costumam chamar o Criador, teve um particular cuidado em criar com arte e
proporção aquilo que fez.
Sabendo quais as características que desejamos para o que
desejamos, passemos a terceira e última parte deste protocolo, a criação de uma
imagem símbolo.
3. VISUALIZAR
COM NITIDEZ E SERENIDADE
Já que pelo que vimos acima, visualizar coisas complexas não
é ver coisas, mas qualidades, como podemos trazer essas qualidades para uma
imagem?
A resposta é: sentimentos. O desejo deve vir do coração. Da
mesma forma à imagem devemos acrescentar sentimentos que a definam enquanto
visualizamos.
No exemplo da casa, podemos visualizar uma imagem
esfumaçada, com os contornos de uma casa, quatro paredes esfumaçadas, um
telhado com dois caimentos esfumaçados, sem definição de tamanho, forma ou cor.
Sobre essa imagem, durante a visualização, lançamos nossos votos de que deva
ser um local aconchegante, harmonioso, seguro, e aonde nossa família possa se
sentir protegida e acolhida.
Não precisamos pedir que seja grande ou pequena, isto o
Cósmico definirá.
Não precisamos definir sua localização, isto o Cósmico
decidirá.
Não precisamos pedir que o preço seja accessível às nossas
posses, isto o Cósmico providenciará.
O que precisamos, é ter claro para nós o que queremos e o
que esperamos encontrar com a realização desse desejo.
Uma casa não são apenas suas paredes, mas é também formada
da felicidade que possa acontecer debaixo de seu teto, dos encontros, das
alegrias, da convivência enfim, harmoniosa, entre os membros da família que ali
reside.
Este é o verdadeiro conceito de Abrigo, dos 6 “As”
anteriores, não apenas um teto sobre nossas cabeças, mas um lugar que nos
proteja de todo o Mal.
Esta é uma imagem para pedidos complexos, que carregam
grande número de variáveis na sua concepção.
A regra é que quando seu pedido possuir muitas variáveis
concentre-se naquilo que é constante e entregue as variáveis nas mãos do
Altíssimo.
Finalmente, quando visualizar, esteja calmo e sereno. Não
contraia o rosto ou os músculos nem aperte as mãos como se estivesse realizando
um esforço físico. O trabalho é essencialmente mental e nesse caso, quanto
maior a serenidade do visualizador, mais clara e nítida será a visualização.
Não, não pense que vai tocar uma música de suspense ao
fundo. A verdadeira magia é discreta e não tem como nos filmes, fundo musical.
Darei agora um exemplo prático, real, que ilustram o método
em ação, retirado do livro que resume esta técnica, até o momento de maneira
insubstituível, “Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios”, de
Harvey Spencer Lewis.
Aprendendo
a usar a Visualização Criativa
Por Spencer Lewis
Permita-me dar um exemplo do
método errado e veja o leitor se consegue apreender o argumento, de modo a
registrá-lo definitivamente, e durante muito tempo, em sua mente.
Vamos supor que um homem tem
uma propriedade que está ansioso por vender. Ele não quer continuar arcando com
impostos e seguros e prefere ter o dinheiro, de maneira a poder usá-lo
imediatamente para comprar passagens para si e sua família e partir para o
Oeste. Lá ele deseja estabelecer seu lar e obter uma nova posição de modo a
recomeçar a vida em melhores condições e numa região que, em sua opinião, é
melhor. Ele tentou todos os métodos conhecidos para vender a sua propriedade.
Procurou corretores de imóveis, publicou anúncios em jornais e fez ofertas
pessoais. Após muitos meses, conseguiu um grupo de prováveis compradores, mas
depois de todo esse tempo o resultado total de seus esforços consiste em uma
provável venda a uma de três pessoas.
Uma delas lhe pagaria
imediatamente se pudesse resolver seu caso no tribunal, o que lhe daria
dinheiro suficiente para comprar a propriedade, mas o caso está nas mãos de um
juiz que demora em lavrar sua sentença. O candidato número dois compraria a
propriedade imediatamente, mas o caso é que seu negócio está entregue a um
síndico de massa falida e ele está esperando receber o dinheiro resultante de
um ajuste de contas entre os credores e outras pessoas.
O candidato número três é um
jovem que deseja comprar a propriedade para começar a vida de agricultor, mas
seu pai está na Europa e só voltará dentro de alguns meses, e o filho está
esperando que o pai lhe mande dinheiro pelo correio ou por telegrama, mas
parece que não poderá consegui-lo.
Então, nosso homem
que deseja vender a propriedade e ir morar no Oeste acha que deve apelar para a
ajuda do Cósmico. Ele passa a se concentrar no Cósmico e a visualizar o que
gostaria de tornar manifesto. Adota o sistema típico esboçado pelos modernos
cursos de psicologia e, assim, senta-se e projeta para a mente cósmica seus
pedidos e exigências, mais ou menos nestes termos: “Agora - diz ao Cósmico -
quero vender minha propriedade para que possa mudar-me para o Oeste, comprar
uma casa e começar vida nova, e não posso vender minha propriedade a menos que
um destes três candidatos tenha dinheiro.
Portanto, por favor, ajude o homem para que o juiz lhe dê uma sentença
favorável, ou ao síndico (da massa
falida), para que consiga um acordo quanto aos seus negócios (do segundo candidato), ou que o pai que está na Europa
mande dinheiro para o filho”.
Então nosso concentrado amigo começa a visualizar o
juiz trabalhando no processo e tomando a decisão de liberar o dinheiro de que o
candidato precisa. A seguir
visualiza o síndico (da massa falida) trabalhando em seus papéis e tomando uma
decisão favorável ao candidato número 2. Em
seguida, visualiza o pai na Europa lendo as cartas do filho e decidindo
mandar-lhe dinheiro.
Depois de fazer tudo isso e
passar meia hora em concentração e visualização, ele está certo de ter deixado
bem claro para o Cósmico exatamente o que quer. E espera dia após dia que o
Cósmico manifeste sua solução.
Mas não há nenhuma
manifestação. Naturalmente quer saber o que está errado.
Agora examinemos o problema deste
homem e vejamos se ele estava ou não fazendo a coisa certa. Em primeiro lugar,
quando me consultou – e escolhi este caso de uma ocorrência real – incutiu-me
claramente o fato de que seu grande desejo era vender sua propriedade a um
desses três candidatos, para obter o dinheiro e partir para o Oeste. Este era o
pensamento dominante em sua mente em todas as suas concentrações e em todos os
seus apelos ao Cósmico. Entretanto, estou certo de que todos concordarão comigo
sem delongas quando digo que tudo bem considerado, o que o homem menos queria
era vender sua propriedade e obter o dinheiro. Na verdade, a venda da sua
propriedade e a obtenção do dinheiro não era a questão vital ou a coisa real
que ele mais desejava. O que o homem queria realmente era ir para o Oeste e
recomeçar a vida. Eu o convenci disso dizendo-lhe: “-Vamos supor que você
não vendesse a casa, mas tivesse recebido uma oferta de uma firma na Califórnia
para se mudar para aquele estado e administrar uma de suas grandes fábricas, e
esta oferta fosse acompanhada de uma promessa de pagar todas as suas despesas
de viagem e ajuda-lo a alugar uma boa casa. Você aceitaria esta oferta? ”
Ao que ele respondeu
prontamente: “-É exatamente isto o que eu quero, e de bom grado aceitaria esta
oferta”.
Está claro que o verdadeiro
desejo dos sonhos deste homem não era vender a propriedade. Do seu ponto de
vista limitado, material, terreno, só havia um modo pelo qual ele podia
mudar-se para o Oeste e recomeçar a vida, e este era vendendo a sua propriedade
e usando o dinheiro para realizar seus planos. Ele jamais pensou, por um
momento sequer que o Cósmico poderia ter outras maneiras de efetuar a
realização de seus desejos. Em outras palavras: seu desejo era mudar-se para o
Oeste; e ele sentara-se e ponderara, elaborara a partir de seu ponto de vista e
decidira, arbitrariamente e de modo final, que só havia um modo de controlar
seus problemas, que era pela venda de sua propriedade. A seguir, passou, em
todo o resto de seu pensamento, planejamento e concentração, a usar esta
decisão arbitrária, sua conclusão final, seu raciocínio e ponderação, como
sendo a maneira decisiva, a maneira perfeita, a única maneira de realizar
seu sonho.
Tendo decidido assim, então
passou a dizer ao Cósmico que este devia aceitar a sua decisão, seu plano, sua
solução, e resolvê-la para ele. Por certo, trata-se de uma imposição ao
Cósmico, e ao mesmo tempo era a pior solução que podia obter para efetuar a
realização que esperava.
Em outras palavras, o homem estava apelando ao Cósmico para vender
sua propriedade, em vez de apelar para que o Cósmico o ajudasse a mudar para o
Oeste e começar nova vida.
Ou de outro modo, podemos
dizer que ele estava dizendo ao Cósmico:
“Quero que você me
ajude a realizar meus planos; mas ouça, Cósmico, decidi como deve ser feito e
como ele pode realizar-se, e como você deve ajudar-me. Vou dizer-lhe
exatamente o que quero que você faça, e quero meus planos executados unicamente
desta maneira. Não quero que você me mande dinheiro do céu. Não quero
que você me faça vir dinheiro de um testamento ou por presente, ou por qualquer
outro canal, mas pela venda de minha propriedade. Não quero que me mande
passagens por alguma firma que gostaria de me chamar para o Oeste. Não quero
que você me dê as passagens por intermédio de alguma instituição bancária que
me ajudaria a me mudar para o Oeste. Não quero que você faça que o
representante de uma companhia do Oeste me chame e se ofereça para pagar minhas
despesas, mas quero que você me dê o dinheiro unicamente pela venda da minha
propriedade. Não quero que você faça uma empresa me oferecer um
cargo ou uma casa no Oeste. Quero ir para lá com minha família e buscar
um emprego, achar um a minha maneira, e levar a cabo a parte final de meu plano
por meus próprios esforços. Não quero que você faça qualquer coisa de
singular ou original que eu não tenha pensado, mas simplesmente que você siga
as minhas instruções, e então saberei que o cósmico é meu sócio”.
Agora, deixo ao bom senso do meu leitor julgar se tal raciocínio e tal
apelo ao Cósmico podem ou não dar os resultados desejados. A prova da minha
afirmação está no fato de que depois que eu falei com este homem e lhe mostrei
as limitações que estava criando em torno da solução de seu problema, e a
atitude ditatorial que adotara para com o Cósmico, ele foi para casa e passou a
se concentrar de maneira apropriada a conseguir realizar plenamente suas
esperanças. Ele se concentrou na seguinte imagem: viu-se e a sua mulher
viajando, não especificamente de trem, carro, ou qualquer forma definida, para
o Oeste. Viu-se reunido com um grupo de
homens que lhe ofereceram uma boa posição. Viu sua mulher, em sua companhia,
entrando numa casa aconchegante, sem tentar visualizar a casa com ou sem
varanda, com um ou dois pavimentos, pintada de vermelho ou de verde, com pátios
grandes ou pequenos, mas apenas uma casa confortável, e conforme o que ele
realmente precisava. Isto era tudo o que ele tinha em mente ao se concentrar, e
ao apelar para o Cósmico. Ele estava completamente indiferente a se ele próprio
comprava as passagens ou se alguma outra pessoa o fazia; se ele iria nesta ou
na semana seguinte; ou para que parte do Estado da Califórnia iria, ou que tipo
de cargo lhe era oferecido. Todos estes pequenos detalhes e meios ele deixou
inteiramente a critério do Cósmico.
Qual foi o resultado? Um de
seus amigos, que por acaso escrevera a um conhecido no Oeste sobre seus
desejos, de volta recebeu uma carta dizendo que havia um cargo numa nova
fábrica de calçados a ser instalada no Oeste, e como este homem já fora
superintendente de uma fábrica de calçados, havia a possibilidade de um cargo
para ele. A carta foi mostrada ao homem que estava se concentrando e ele
escreveu diretamente para a nova fábrica na Califórnia. Ofereceram-lhe um cargo
e mais um adiantamento de seu salário, suficiente para que ele fosse com sua
família para o Oeste.
Em doze dias ele estava a
caminho do Oeste. Precisamente três semanas após lá chegar, e já estar
instalado em sua nova casa e em seu novo cargo, uma companhia de imóveis em
Nova York, notificou-o de que uma grande empresa, até então não considerada
como cliente para a compra da propriedade fizera uma excelente oferta por ela e
que a oferta “caíra do céu”.
Desse modo, nosso homem viu-se
confortável e alegremente instalado em sua nova casa e em seu novo cargo, numa
nova região do país, e também com uma bela soma em dinheiro que podia deixar de
lado, numa caixa econômica, reservado para emergências. Todos os seus sonhos
tinham se realizado e mais ainda; entretanto, nenhum dos detalhes da
concretização fora semelhante aqueles em que ele se concentrara em suas
tentativas originais de exigir do Cósmico sua cooperação.
A Arte da Visualização Mental garante, portanto, que todas
as nossas necessidades básicas, se assim desejarmos, serão satisfeitas e que a
miséria física e espiritual é consequência de nossas crenças mentais muito mais
do que de nossas posses materiais.
Tudo que for básico, que fizer parte dos 6 “As” está
garantido pelo universo àquele que, pela iniciação, for levado a conhecer o
potencial de realização de sua imaginação.
É claro que para isso, certas condições são necessárias,
como serenidade, capacidade intelectual de abstrair, curiosidade sincera e
perseverança ao exercitar uma habilidade esquecida pela falta de prática há
séculos.
Um músculo imobilizado por anos se atrofia. Para recuperar
sua vitalidade, seu “tônus” normal, este músculo deve ser gradualmente
acostumado ao movimento e sua habilidade não será retomada imediatamente após
ser libertado de sua imobilidade.
É preciso praticar com este músculo para que ele retorne ao
seu desempenho normal.
A IMAGINAÇÃO CRIATIVA é, do mesmo modo, uma capacidade
presente em todas as pessoas e só não é usada como ferramenta cotidiana por
motivos culturais, já que a sociedade olha com desconfiança e medo para a
Criação e supõe que a maldição bíblica em Gênesis 3: 19 (“No suor de teu rosto
comerás teu pão, até que te tornes terra; porque delas fostes tomado; porquanto
és pó e em pó te tornarás”) é real e intransponível.
Somos vítimas de nossas crenças, de nossas idéias de mundo,
que nos impelem nesta ou naquela direção, como marionetes.
Convicções: este é nome daquilo que nos oprime.
Para usarmos bem a Visualização Criativa precisamos fazer um
exercício de desapego de convicções e testar o que aqui é proposto mantendo
aberta nossa mente aos acontecimentos; depois, se não estivermos satisfeitos,
testar novamente e novamente, de forma que uma sucessão de experimentos
bem-sucedidos façam que as convicções mudem e novas idéias de mundo assumam o
comando de nossa mente.
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
sábado, 3 de dezembro de 2016
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
TEMPO LINEAR, TEMPO CIRCULAR
Por Mario Sales, FRC, SI
A estação espacial
Era 1999. O primeiro episódio da nova franquia de Star Trek,
(Jornada nas Estrelas), Deep Space Nine, que duraria sete temporadas, escrito
pelo roteirista Rick Berman, começava a ser exibido.
Seu título é “O Emissário” e foi dividido em duas partes.
Revi com prazer este episódio agora, já que toda a série
está disponível na Netflix
O enredo é básico para o desenrolar de toda a trama.
Benjamin Sisko (Avery Brooks), comandante e representante da
Federação de Planetas, assume a administração de uma ex estação espacial do
povo Cardassiano, que acabou de se retirar de um planeta chamado Bajor, em
órbita do qual a estação está.
Benjamin Sisko, vivido pelo ator Avery Brooks
Os Cardassianos subjugaram e dominaram política e militarmente
o povo bajoriano por décadas, e com sua saída e a retomada da autonomia do
planeta, a Federação é chamada a apoiar a transição, tecnológica e
militarmente.
O Comandante Sisko é um homem solitário e amargurado pela
lembrança da morte de sua esposa em uma batalha três anos antes, contra uma
nave Borg, que coincidentemente era liderada por um Jean Luc Picard abduzido e
transfigurado pelos Borgs em Locutus, destino do qual eventualmente seria salvo
pelos seus oficiais.
Neste ínterim, entretanto, ainda na situação de abduzido,
Locutus (Jean Luc) comanda um ataque a Terra e enfrenta a resistência de várias
naves da Federação, entre elas aquela aonde servia o atual comandante Sisko, juntamente
com sua esposa e seu filho adolescente, Jake.
Locutus
Durante o ataque, sua esposa é morta e ele escapa com o
filho por pouco.
Ao assumir Deep Space 9, Cisco é apoiado pela Interprise, capitaneada pelo mesmo Jean Luc Picard, já de volta ao seu estado humano normal, e o primeiro encontro de trabalho entre ambos, por causa disso, é tenso. A mágoa de Sisko com Jean Luc reflete mais a sua tristeza e seu luto do que uma raiva pessoal, já que ele lhe lembra aquilo que mais queria esquecer.
A cena da esposa soterrada pelos escombros e sem possibilidade
de ser retirada da nave, a qual explode pouco depois de ser evacuada, marca o
drama pessoal deste comandante viúvo, descrito nesse episódio.
O enredo então avança pelos problemas administrativos e políticos
da reconstrução da vida social de Bajor, pari passo com a reorganização e
adaptação à tecnologia cardassiana da estação pelos técnicos da federação.
Surgirão problemas de interação entre os homens e as
máquinas e entre bajoriano e humanos durante este período.
O destaque, no entanto, fica para o significado da
espiritualidade nesse processo.
A major Kira, adida bajoriana e segunda em comando na
estação alerta Sisko que o seu planeta está dividido depois da retirada
cardassiana, e que só uma coisa une a todos: a religião.
Jean Luc Picard
A líder espiritual do planeta, Ka Opaka, recusa-se a fazer a
ponte entre todos e se afasta, tornando-se reclusa.
Surpreendentemente, convoca Sisko para uma reunião através
de um de seus sacerdotes, que trabalha na estação espacial. Sisko atende seu
chamado e se reúne com ela em Bajor. Ela lhe fala sobre o destino de cada um, o
qual ela chama de Pah. E alerta Sisko de que seu Pah o trouxe aquele mundo, e
poderá fazer por ele mais do que ele supõe.
Neste momento, ela revela a ele que possui um objeto, parte
de um grupo de nove, mas dos quais sobrou apenas um, sendo que os outros oito
haviam sido roubados pelos Cardassianos, quando de sua violenta estada em
Bajor.
Este orbe remanescente está por isso mesmo, devidamente
escondido de todos, e ela mostra-o somente a Sisko.
Trata-se de um objeto semelhante a um pequeno peso de
ginástica, mas em posição vertical, que flutua dentro de um escaninho com
portas (que se fecham para ocultá-lo) e gira sobre si mesmo enquanto emite uma
hipnotizante luminosidade azul.
Ka Opaka
Ka Opaka diz a Sisko que ele precisa resolver sozinho seus
problemas pessoais e deixa-o experimentar o Orbe, como é chamado. Abre a caixa
para espanto de Sisko que olha aquele objeto fascinado e sai da sala.
Sisko é então tomado por um estado de consciência alterada
em que revive o dia da morte da esposa, e perde durante o processo a noção de
tempo e espaço. Quando sai do transe, Ka Opaka retorna e diz a ele que este é
um dos efeitos do Orbe sobre quem o contempla, e que é seu Pah interpretar o significado
do Orbe.
O Orbe dentro de sua caixa
Numa demonstração de inexplicável confiança, Ka Opaka dá o
Orbe a Sisko dizendo que ele deve buscar “Os Profetas” através deles e achar
sua Morada, o “Templo Celestial”, seu destino pessoal, seu Pah.
Sisko leva o Orbe para a estação e pede a um velho amigo, um
ser simbiótico capaz de viver várias vidas em corpos de hospedeiros diferentes,
chamado Dax, agora na pele de uma bela moça, Jadzia Dax, que examine o Orbe e
tente entender seu mecanismo.
O episódio se desenrolará com outros acontecimentos, mas
para não me estender em demasia, salto para o momento em que, com a ajuda de
Jadzia, Sisko descobre aonde deve se dirigir para encontra essa região ou
dimensão, chamada na mitologia bajoriana de “templo Celestial”, a qual ele
começa a suspeitar, seja apenas uma vestimenta mitológica de fatos até aquele
momento inexplicáveis a luz da cultura daquele povo.
Sendo assim, ele e Jadzia, a bordo de uma nave auxiliar,
dirigem-se a uma região do espaço aonde uma grande concentração de neutrinos
denuncia uma atividade de campo intensa e, até aquele momento, invisível.
Para sua surpresa, quando se aproximam, a atividade dos
neutrinos aumenta exponencialmente e um Buraco de Minhoca tempo espacial se
abre a sua frente, para dentro do qual são lançados e que atravessam em grande
velocidade, saindo um pouco mais a frente, para sua surpresa, milhões de anos
luz distantes de onde estavam, no chamado quadrante gama. Mais espantosamente, percebem
que o Buraco de Minhoca é estável, que não foi um fenômeno natural, mas que é
artificial, que tem provavelmente 10000 anos de existência, período durante o
qual os nove orbes apareceram e que era produto de uma avançada tecnologia de
um povo, até aquele momento, desconhecido.
Dão meia volta na nave auxiliar e começam a retornar ao seu próprio
quadrante espacial, passagem permitida novamente pela abertura graciosa do
portal com a sua aproximação.
Só que dessa vez eles não conseguem atravessar e sair
simplesmente. A nave reduz sua velocidade e, espantosamente, pousa em algum
lugar. Perplexos eles saem da nave dentro de um bolsão atmosférico adequado a
vida humana, de aparecimento tão inexplicável quanto o próprio portal. Sisko sai da nave e se depara com uma paisagem sinistra e desolada, com abismos e
rios de lava correndo entre rochas disformes.
Já Jadzia, ao sair, depara-se com um local semelhante ao
paraíso, um lindo jardim com um sol agradável, cheio de árvores frutíferas.
Ambos, no mesmo espaço físico, se assim podemos chamar,
vivenciam experiências de interação ambiental absolutamente diversas, talvez
uma manifestação do estado interno psicológico de cada um. O deprimido viúvo e
a sábia criatura de centenas de anos experimentam o mesmo espaço tempo de modo
absolutamente desigual.
Súbito, um Orbe surge, semelhante aquele que Sisko e Jadzia
receberam para análise de Ka Opaka. Ele flutua sobre ambos até que captura
Jadzia enquanto Sisko é envolto por um estado de consciência alterada.
Jadzia e Sisko sendo sondados por um Orbe antes de Jadzia ser levada de volta da Fenda espacial para a estação
O Orbe levará Jadzia em segurança até a estação espacial
Deep Space Nine, enquanto Sisko começa uma estranha conversação com os seres
que, agora se revelam habitantes daquela fenda espacial.
Eles não se revelam como formas. Para que Sisko os
compreenda, assumem ao falar a forma de pessoas que fazem parte das memórias de Sisko, sua
esposa mais jovem, seu filho conversando com ele no holodeck da nave que os
trouxe a estação no início do episódio, ou mesmo na forma de Ka Opaka ou Jean
Luc Picard. Eles falam como se cada um fosse parte do outro e a frase e o
pensamento de um geralmente são completados por outro personagem.
Cisco está mergulhado nesta estranha experiência de
interação, mas percebe o que ocorre e entra no jogo deste estranho primeiro
contato com o povo da fenda espacial, que ele ainda não sabe, tem parâmetros de
compreensão absolutamente distintos dos parâmetros epistemológicos e psicológicos
humanos.
Esta é talvez a cena mais forte do filme. Sisko precisa
conversar com rostos que não são aqueles de seus interlocutores, mas apenas
máscaras, personas de seu próprio universo psicológico interior.
É durante este estranho colóquio que ele percebe a mais
impressionante diferença daquele povo: eles não conhecem o conceito de tempo
linear já que vivem em uma percepção de tempo circular ou eonica, como chamavam
os gregos.
Desta forma, durante a conversação, esforçam-se para
compreender o que é tempo linear, o que é porvir, futuro, e o que é passado,
aquilo que não volta mais.
Para eles tudo isso é novo e complexo já que tudo que
existe, existiu ou existirá, para eles, é um presente eterno.
Sisko esforçar-se-á para explicar o que significa viver com
uma compreensão linear da vida, e a natural impossibilidade humana de voltar fisicamente ao
que já aconteceu.
Neste momento, eles o questionam sobre suas lembranças pessoais
que contemplam telepaticamente, nas quais o episódio de maior sofrimento para
ele, o dia da morte de sua esposa, é revisitado com frequência.
E quando eles o questionam ele diz que aquilo já passou, que
é apenas uma lembrança, ao que retrucam que não é apenas uma lembrança, mas uma
vivencia, da qual ele não se liberta, e que ele experimenta seguidas vezes,
como em um looping, como em um círculo vicioso. Eles perguntam: "Se isto não existe mais, porque voce vive aqui, porque voce existe aqui?"
Esta é a natureza psicológica dos traumas.
Eles são experiências que são revisitadas pela vítima de
maneira descontrolada e constante, de maneira que aquele que vinha em um curso
linear de vida e crescimento para neste ponto e fica ali, rodando em círculos,
sem poder se libertar daquele momento, daquela emoção, daquela memória.
E então os habitantes da fenda argumentam com Sisko que
aquele comportamento não é linear. Ou seja, no seu processo de compreensão da
natureza da psicologia humana e da sua peculiar relação com o tempo, percebem
que, como no caso de Sisko, o que para eles era seu modo natural de ser, para
seres lineares era uma denúncia de doença e trauma mental.
Sisko desaba em lágrimas ao perceber a profundidade desta
descoberta aparentemente tão simples.
E ali, sua recuperação psicológica se completa e ele
consegue superar a perda da esposa.
O episódio segue, mas o que me interessa acaba aqui.
É talvez um dos mais fascinantes filmes de ficção científica
que eu assisti, e que há anos eu não revisitava.
Teve forte impacto sobre mim. Eu mesmo estava paralisado, há
mais ou menos um ano, por uma desagradável experiência que atravessei no meu
ambiente profissional.
Percebi o quanto de circularidade em minha mente e em meus
pensamentos este trauma existencial havia me atirado.
E como o comandante Benjamin Sisko, em uma catarse, começo a
ir em frente e voltar a um tempo psicológico linear.
Tudo na arte, do teatro ao cinema e à música, pode sim ser
terapêutico.
Uma experiência enriquecedora que eu quis compartilhar.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
O ESTOFO DAS AMIZADES
Por Mario Sales,FRC,SI
Não se pode discutir com pessoas que não concordam conosco a
não ser no âmbito da ciência e munido das evidencias que possam embasar nossa
posição.
Na vida do senso comum, entretanto, nem com evidências nas
mãos podemos ter uma conversa civilizada que convença nosso interlocutor de
coisas nas quais ele não deposita confiança.
Conversar com alguém que concorda conosco é como encontrar
com alguém em um hotel e, durante um café, fazer uma nova amizade. No decorrer
desta conversa, comparamos nossas experiências turísticas e é como se
tivéssemos visitado os mesmos monumentos, as mesmas cidades, os mesmos museus.
Pessoas que concordam, mesmo que não se conhecessem antes,
tiveram trajetos semelhantes em períodos diferentes de vida. Depois, ao
conversarem é como se mostrassem cada um, fotos dos mesmos locais um para o
outro.
Ninguém chega a um relacionamento de mãos vazias.
Todos nós temos uma bagagem.
É muito bom quando nossas bagagens são semelhantes a do
nosso interlocutor.
Goethe dizia que gostava de conversar com pessoas que
divergissem dele, de forma a melhorar e ampliar sua visão de mundo, sua retórica,
seus argumentos.
Concordo. Nada disso é, no entanto, prazeroso. Parece mais
com um exercício, como a esgrima, em que cruzamos floretes com elegância, mas
com virilidade, competitivamente.
Já o encontro de almas afins é sempre acalentador e comovente.
Aquece o coração e o espírito.
Fortalece nossa crença de que sempre, queiramos ou não,
existe um grau especifico de pertencimento que carregamos conosco, na maioria
das vezes inconscientemente, e que uma vez percebido, tornado manifesto, nos
posiciona no mundo e na vida social.
É assim que nascem fortes amizades.
Como no ditado árabe: “enquanto só perceberes as diferenças
entre as coisas, teu conhecimento não valerá uma rúpia. A sabedoria só vem
quando se começa a ver entre todas as coisas suas semelhanças. ”
É isso
sábado, 29 de outubro de 2016
ESPIRITUALISMO MATERIAL
Por Mario Sales
“Nós não podemos ir além
Se não conseguirmos sentir o amor comum
Nós não podemos ir mais alto
Se não conseguirmos lidar com o amor comum”
Se não conseguirmos sentir o amor comum
Nós não podemos ir mais alto
Se não conseguirmos lidar com o amor comum”
U2, in “Ordinary Love”
Meus anos dedicados ao Misticismo e ao Esoterismo me deram,
no início, a falsa impressão de que conseguir distância das coisas da Terra
fosse o caminho para encontrar as coisas de Deus.
Foram necessárias várias décadas para que eu percebesse o
erro conceitual de minha premissa, um traço romântico e fantasioso de minha
personalidade, difícil de aperfeiçoar.
Hoje minha jornada está na mesma direção, mas em sentido
inverso.
Eu imaginei que o caminho para o espírito fosse olhar para
dentro saltando por cima do corpo. Hoje entendo que se não vivenciar minha
experiência corpórea jamais chegarei a entender a minha natureza espiritual.
A falsa dualidade platônica denunciada por Espinoza me
iludiu, confundiu e constrangeu minha capacidade de perceber a santidade existente
nesta manifestação física que ora habito.
Negar a mim mesmo enquanto corpo não me tornará mais
refinado, percebo agora, algo óbvio do ponto de vista intelectual, mas não tão
óbvio do ponto de vista existencial.
Hoje suponho ter percebido este simples fato: é mantendo com
carinho e cuidado minha casa, minha morada, que crio as condições externas adequadas
para quem a habita, ou seja, eu mesmo. E cuidar da morada, do corpo, não é
apenas garantir a satisfação de suas necessidades básicas como ar, água,
alimento e abrigo. É preciso cuidar do afeto, com tanta ou mais importância que
os outros quatro itens anteriores.
Precisamos amar o corpo e as coisas do corpo, sem que isso
signifique tornarmo-nos escravos do corpo. É dar a César o que é de César, fator
sem o qual a equação estará desbalanceada.
Com certeza ninguém elevará sua alma pela negação de sua
própria carne. Só tolos como eu, poderiam cometer este terrível equívoco.
Alguns pensadores já mostraram os perigos implícitos na
expressão “amar a humanidade e odiar o próximo”. E ninguém é mais próximo de
nós do que nosso próprio corpo.
Da mesma maneira é estúpido supor que nosso amor será mais
espiritual e elevado se não conseguimos lidar com o Amor Comum. Toquemos a nós
mesmos. Sintamos nossa pele.
Ela tem, com certeza, muitas lições a nos ensinar.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
TEMPO
Mario Sales
“Na candente manhã de fevereiro em
que Beatriz Viterbo morreu, depois de uma imperiosa agonia que em nenhum
instante se rebaixou ao sentimentalismo ou ao medo, notei que os porta-cartazes
de ferro da praça Constitución tinham renovado não sei que anuncio de cigarros;
o fato me tocou, pois compreendi que o incessante e vasto universo já se
afastava dela e que aquela mudança era a primeira de uma série infinita.”
“O Aleph”, um conto de Jorge Luis
Borges (1949), Companhia das Letras, 2008
A energia fugiu de mim,
como a corça do leão e do guepardo
Ideias ou inspirações, nenhuma,
Só esse silêncio na cabeça e na alma
Que me preenche
Como só o vazio pode preencher alguém.
Mas o tempo lá fora não se importa e segue em frente
Fluxo inexorável, implacável, inesgotável,
Que antes de impressionar, causa inveja.
Queria para mim, esta imperturbabilidade
Essa incapacidade de se desviar ou distrair do foco
Do horizonte a alcançar
Determinação inabalável e rítmica
Que só o tempo tem.
Nada, nem ninguém
é capaz de impedir que flua
Livre, perene, indiferente.
Mesmo que os eventos
tenham significado,
quer sejam de vida
ou de morte
Não são capazes de abalar,
em um segundo, a sorte
e o passar incontrolável das horas,
O Devir contínuo
Do qual somos, tão somente,
Espectadores passivos.
Ou não.
O tempo segue em frente,
Célere, Inconsciente
daqueles que o preenchem
E aos quais atravessa.
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