Por Mario Sales
Heráclito de Éfeso
A Ordem Rosacruz AMORC tem como um de seus ensinamentos o
axioma de que “o mundo é dual em essência e triplo em manifestação”, afirmação
que estabelece a inevitabilidade das oscilações de todas as coisas entre dois
polos, um que chamaríamos de bom, positivo, e outro mau, negativo.
Nesse ponto o esoterismo ocidental é extremamente mecânico,
estático.
O símbolo taoista das Clavículas de Fu-Hi tem mais
fidelidade aos fatos, tais como são. Essa oscilação, além de constante, como os
batimentos do coração, é ininterrupta.
De qualquer forma, oscilação lenta ou rápida, a verdade é
que os polos são ilusões temporárias. Tanto o polo positivo, (de alegria e
felicidade), como o polo negativo, (de tristeza e dor), são temporários e passageiros.
Daí não fazer sentido a afirmação de outro nobre rosacruz,
Renée Descartes, de que “tudo que o homem faz é em busca da felicidade”.
A felicidade como meta, é inalcançável, escorre pelas mãos
como a água. Da mesma forma que a tristeza.
O que nos resta de verdade é desenvolver equanimidade, um
estado de equilíbrio que resista a estas oscilações.
É o que eu tenho chamado de serenidade, uma meta alcançável
com esforço e treino.
Não por outra razão, budistas, especialistas em equilíbrio
mental, pregam como solução para a dor, o desapego.
Como o pêndulo de um velho relógio, dor e prazer alternam-se
de maneira permanente, e se desenvolvemos o desapego, tanto ao bem, como ao mal,
mais rapidamente um ou outro polo se desfaz, acaba, passa.
Eu não me enganei: apego ao mal. Existem pessoas que insistem
em ficar agarrados à aspectos ruins da vida, focados na sombra e não na luz. É
uma espécie de vício, tão ruim quanto a mentalidade de poliana de que tudo está
bem e vai ficar bem.
A verdade é que não vai. Pelo menos por um tempo.
A disputa entre otimistas e pessimistas é vã.
A ação no mundo, verdadeiro diferencial de maturidade, não
prescinde de condições adequadas ou favoráveis.
Barcos fortes e estáveis avançam mais devagar em meio as
tempestades e mais rápidos em dias de sol e mar tranquilo.
De qualquer forma, avançam.
E é assim que as coisas são, “duais em essência”.
Parte do crescimento espiritual é compreender isso, e
adaptar-se, já que a adaptação, como lembrava Charles Darwin, é a chave da
sobrevivência.
A felicidade não pode ser um objetivo na vida já que ninguém
deseja que o coração pare em diástole ou em sístole.
O coração precisa continuar a se expandir e a se contrair, assim
como os pulmões, assim como o dia precisa alternar com a noite.
Querer a felicidade é querer o sol em nossas cabeças
permanentemente, é um desejo descabido, se olhado de forma sensata.
Não, não estamos aqui para sermos felizes embora possamos
sim nos divertir.
Como lembra o símbolo taoísta, existe um pequeno bem germinando
dentro de todo mal, e um pequeno mal germinando dentro de todo bem.
Nada, absolutamente nada é isso ou aquilo.
Tudo está em fluxo e oscilação, sempre e sempre.
Não nos esqueçamos de Heráclito de Éfeso, (535
a.C. - 475 a.C.): nenhum homem pode banhar-se no mesmo rio, duas
vezes.
O resto é silencio.
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